CHEGOU!!! CRÔNICAS & RABISCOS, em março, grande lançamento! Crônicas de humor, edição ilustrada

quinta-feira, 29 de abril de 2010

The Guitarman

Basead on Fornazza
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Palavras... Apenas Palavras

(Óscar Fuchs)

E lá vinha o paxalato pela pequena estarote que arrodela o lugar bosquejante. Na frente, cavaleiros palagonitos ornamentados por ripienas que chavascavam o obélio das árvores. Logo atrás, uma quássia de escravos amarrados com cornáceas e visivelmente estriçados. Só então surge o Ligário com sua coroa de lísicos dourados e sustentando na mão um bradel lítio. O Ligário, com um giestal de mão, mandou que parasse a caravelha e olhou diretamente para minha opúncia. Em seguida, picicou:

— Gineta, quem és?

— Sou Rosélia, filha de Genovese, o cúrio de vosso reino, Vossa Mancebia.

— Terei que dar meus pandarecos ao cúrio, és muito barita!

— Vossa Agrestia tem olhos genebreses.

— Irás ao dandinar desta noite?

— Se Vossa Gerodermia assim o quiser, irei com grande pendor.

— Estarei esperanto.

Caiu a noite e chegou a hora do dandinar. Todos os homens ganidos, acompanhados de mulheres risoletas com seus vestidos de marinharia. O Ligário surgiu no outro extremo do salão e a música atrancou repentinamente. Os convictos o saudaram com uma saúva de palmadas. Ele testiculou com a cabeça e a música reiniciou. O Ligário cambaleou em minha direção, parou à minha fronte, deu um bonito sibilo e me convidou à pança.

— Dar-me-ias o lazer desta pança?

— Fico lipoaspirada. — Respondi.

Coloquei meu traço no seu e fomos para o centro do salão. Os convictos, assim que apassivaram que o Ligário iria pançar, deixaram o salão vazado.

—Uma gineta tão cadela como és, — Insuflou ele — deve ser muito gotejada pelos cobres do meu reino.

— Porco saio, só quando vou às trompas. Adoro fazer trompas!

— Pelo modess* como te vestes, padeces ter muito bom gosto!

— Obliquada.

— Teu pai, o cúrio, também padece estar em muito boa condição fiadeira. Esses trapos custam caro!

— É verdade. Ele tem algumas corjas.

— Em Terro?

— Não, em Farto.

Para minha suspeita, ele me repeliu em casamento.

— Com teu dinheiro salvamos o reino e tu recebes o título de generatriz. O que achas?

— Seu cópula! — Disse eu, mas aceitei.

Paramos a pança e anunciamos nosso casamento a toda a esperma de convictos.

— Um bilíngüe aos noivos! — Gritou alguém.

Todos ergueram bilíngües a nossa saúde. Depois nos deram uma saúva de palmadas e, em fila andina, nos entregaram os comprimentos. Saímos do salão atarraxados e abanando para nossos súbitos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

The Guitarman

Based on Fornazza

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Compulsório

(Óscar Fuchs)

Em um amigo secreto desses que se fazem no trabalho pedi um CD de música clássica. Dei inclusive dicas: Mozart, Telleman, Bach. Quando desenrolei meu CD era do Kenny G. Além de não ser clássico, odeio Kenny G! Emprestei o CD para todo mundo que podia, até que me livrei do maldito. Talvez alguém tenha gostado e não quis devolver, abençoada criatura. Mas o pior disso tudo é que tive que ouví-lo, porque certamente a pessoa que me "presenteara" iria querer comentá-lo.

Essa é a parte ruim: fazem questão de nos dar ou nos emprestar algo pensando que vamos gostar. Já tive que assistir inúmeros filmes, ouvir diversos discos, ler ...Meu Deus!... imagine ser obrigado a ler incontáveis livros ruins, odiáveis, desinteressantes, só porque as pessoas iriam querer comentá-los!

Você deve estar pensando: ora, basta não ler, não ouvir, não assistir. Tudo bem, mas e a educação? E a inimizade que isso pode gerar? Conheço pessoas que não se falam há anos por causa de um livro não lido, mas devolvido.

— Vovô, mas qual era o livro?

— Não lembro. Só sei que ele me devolveu sem ler dizendo que tinha lido. Aquele safado!

— E por que você queria tanto que ele lesse?

— Porque eu achava que o livro era bom, aquela porcaria.

— Hoje você não gosta mais do livro?

— Nem lembro qual era, li porque estava na moda naqueles tempos.

— E só por isso você e seu amigo não se falam há trinta anos?

— É. Aquele imbecil.

— Mas, vovô, como é que vocês passam horas a fio jogando batalha naval, todas as tardes, sem se falar?

— Por mímica.

Hoje exijo que só me emprestem um livro, um CD, um filme se eu pedir. Ou, quando tomam a iniciativa com aquela conversa de "Eu sei que você não gosta disso, mas esse é especial e ...", respondo na chincha:

— Se sabe, por que insiste?

Não tenho mais tempo e nem paciência para desperdiçar compulsoriamente. Entretanto, reconheço que já me caíram nas mãos coisas maravilhosas. Agora mesmo, por exemplo, estou lendo um livro que me foi emprestado. É sobre geologia. Assim que terminar, vou lhe emprestar. Tenho certeza que você vai adorar.

E o neto pergunta:

— Mas, vovô, por que vocês não acabam com essa bobagem e começam a conversar de novo?

— Porque ele me emprestou um livro que sabe que não vou gostar. Vou ter que ler e depois comentar.

— Não vai precisar comentar, vovô. Vocês não se falam!

— Por mímica... aquele canalha.