CHEGOU!!! CRÔNICAS & RABISCOS, em março, grande lançamento! Crônicas de humor, edição ilustrada

terça-feira, 31 de maio de 2011

La famiglia inocentada

Clique na imagem para ampliar e depois na seta voltar < de seu navegador para retornar ao blog

terça-feira, 24 de maio de 2011

Popularesco

Clique na imagem para ampliar e depois na seta voltar < de seu navegador para retornar ao blog

Vai no popularesco

(Óscar Fuchs)

Não tenho aqui em casa uma peça para ficar só, um escritório, por exemplo, onde eu possa pensar e escrever. Então, uso o banheiro. Tem quase tudo o que teria um escritório: silêncio, privacidade, um lugar confortável para sentar e pensar, tem papel, sem contar que posso fazer duas coisas ao mesmo tempo. Ali dou minhas filosofadas. E, na pressa de escrever, saio a cata: cadê o papel... cadê o papel...?

Filosofada quentinha: o popularesco tomou conta de tudo. Não o popular — que é autêntico do povo, que é de suas raízes —, nem o populista — que tem viés político, artístico e até cultural —, mas o popularesco mesmo!

O popularesco, ao contrário dos outros, tem finalidade exclusivamente comercial, é obra da mídia e empresários cúmplices para ganhar dinheiro, nada mais. O cinema lança semanalmente filmes bobos e sem propósito com estorinhas de vampiros idiotas, colegiais tolos, lendas nórdicas mentirosas e até fatos históricos distorcidos. E o cinema paga muito para fazer propaganda massiva de seus produtos.

Aos Paulos Coelhos é dado status de escritor e cult, a pseudo-sertanejos americanizados é dado o lugar dos autênticos caipiras, pagodes chorosos e falsos tomam o espaço de verdadeiros sambistas. A MPB, Música Popular Brasileira, virou Música Popularesca Brasileira.

A televisão virou um espetáculo de bizarrices nojentas e apelativas nos programas de auditório, nos jornalísticos sensacionalistas cheios de violência e encenação, nas novelas com tramas superficiais, simplificadas e maniqueístas, bem ao gosto da população “inculta e bela”. É o circensis, é a concretagem da mediocridade e da ignorância.

Todos os meios de comunicação — jornais, televisões, rádios e grandes provedores de internet — escancaram seu espaço e seu tempo para o futebol, o mais popularesco dos esportes e dos assuntos. E a massa, ignara, cai na armadilha.

Cai na armadilha e sai parlapatando — parlapatação é o falar do papagaio, a repetição — tudo o que ouve e lhe dizem como se fosse culto, de bom gosto e até erudito.

Isso dá dinheiro. O culto e bem informado é exigente, quer o melhor pelo menor preço, é muito chato, dizem as empresas. Já para o desinformado e inculto é mais fácil vender, ele consome os produtos baratos e de má qualidade com avidez, sem exigir e sem reclamar.

Soube que o caderno de cultura dos jornais — surpresa! — é um dos mais lidos. Compreensível: todos os inconformados com esse popularesco se juntam na leitura de um único veículo, aquele que ainda traz algum conhecimento. No entanto, em geral, os jornais têm apenas um caderno de cultura por semana. Ora, se é tão lido, por que não é editado mais vezes na semana? Simples: porque é lido, mas não é anunciado. Poucos querem anunciar nesse caderno, pois o leitor é — como disse — bem informado e exigente... em suma, um chato. Tudo é apenas uma questão de dinheiro. Mas, se não dá dinheiro, por que continuam editando ao menos um caderno de cultura semanal? Um ínfimo resquício de vergonha e moral dos donos da mídia conserva algo assim mais, digamos, digno.

O pior, mas o pior mesmo, é que quem tenta alertar a vítima do popularesco, não consegue. Simplesmente porque esse alerta não é algo de seu universo popularesco.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Futuro

A gente podemos

(Óscar Fuchs)

Uma vez eu tava escrevendo e fiquei na dúvida de como a gente devemos escrever um determinado verbo em concordância com o tempo e a pessoa. Passei dias na dúvida. Pesquisei e estudei até que aprendi a escrever certo.

Se nós pega o jeito que a gente falemos na rua todos os dias, é muito mais fácil escrevermos. Então o Ministério da Educação deve ter pensado isso quando aprovou aquele livro que permite erros, porque daí a gente não podemos exigir salário melhor pros professor e nem escola melhor. Afinal, mesmo que nós escreve tudo errado, ta certo.

No livro didático de português Por uma vida melhor, da coleção Viver, aprender, adotado pelo Ministério da Educação para o ensino de jovens e adultos, os autor usa a frase “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado” para exemplificar que, na variedade popular, só “o fato de haver a palavra os (plural) já indica que se trata de mais de um livro”. Em um outro exemplo, os autor mostra que não há nenhum problema em usar “nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe”.

Todas as vez que algum pai de aluno ir reclamar na escola que seu filho não sabe falar e escrever direito, que os aluno não pode escreverem daquele jeito, que os professor não pode ensinarem aquilo, eles vai dizer pro pai:

— Agora, a gente podemos. O Ministério da Educação disse que nós não pode fazermos os alunos ser vítima de preconceito lingüístico.

A gente sabemos: o Ministério não tem como explicar porque os professor ganha tão pouco, nem porque deixa de construir as escola e nem como os aluno sai da escola formado sem saberem escrever e falar, então diz que é normal o jeito que nós falemos.

Já faz alguns ano que o Ministério ta tentando colocar os aluno com necessidades especial no ensino regular, como se os aluno assim não precisasse de atendimentos diferenciado. Tudo porque esses aluno é caro e exige investimento. A gente imaginamos: um aluno que precisa de atenção especial e de mais tempo, na mesma sala que outros 39 aluno. Das duas, uma: ou ele não vai acompanhar os outro, ou os outro vai ter que ficarem esperando por ele. E o cronograma do professor vai pro espaço junto com os plano de aula e o ensino.

Agora o Ministério ta querendo que os professor seja os jogador de futebol e os funkeiro, ensinando as pessoa a dizer nós vai, nós quer... enfim, eles deve estar gritando é nós! Aprender o errado a gente aprendemos em qualquer lugar, mas o certo a gente temos que procurar onde aprendermos. E as escolas existe pra isso, pra ensinar o certo.

E não venha vocês com esses papo que as elite cultural é que ta falando contra isso, que é os que estudaram em escolas particular, que são pessoa querendo preservarem seu poder, etc, porque a gente não semos elite cultural, a gente estudemos em escolas pública e a gente não temos poder nenhum pra preservar. Ainda assim, a gente não aprovemos isso. Mas, a gente semos inútil.

E agora, vocês achou bonito esse texto escrito desse jeito? Se vocês acha que ta tudo errado, também achemos... só que agora a gente podemos. É nós!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O caso Bin-Bin


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Acerto de contas


Clique na imagem para ampliar e depois na seta voltar < de seu navegador para retornar ao blog

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O nada

(Óscar Fuchs)

Tinha um professor na 4ª série — quando ainda se chamava primário! — muito simpático. Chamava-se Zezinho e era tão pequeno que tinha a altura de seus alunos. Talvez por isso a identificação entre o mestre e seus gafanhotos. Certa vez, ao fazer uma arteirice, fui pego por ele com a mão na cumbuca. Assustado, imediatamente coloquei as mãos às costas, escondendo o objeto da minha safadeza, a prova de um menino arteiro. Professor Zezinho parou a minha frente e perguntou calmamente:
— O que está escondendo aí atrás?
— Nada. — Respondi.
Professor Zezinho colocou a mão no queixo e disse pensativo, mas inquisidor:
— Como é que se esconde nada?
E pronto, não tive argumentos: Se era nada, por que eu escondia? Entreguei a ele o isqueiro que roubara de meu pai e trouxera para a escola.
Durante a aula do Professor Zezinho eu pedia um fio de cabelo às meninas. Cúmplices, sorriam arteiras, davam um puxão no próprio cabelo e me entregavam os fios. Sim, porque nunca vinha um fio só. Pegava os fios, acendia o isqueiro e os queimava discretamente, exalando aquele cheiro de cabelo queimado. Pura sacanagem!
Depois que ele me pegou e que lhe entreguei o isqueiro fiquei pensando que poderia tê-lo enfiado nos fundilhos da calça, pelas costas, e mostrado minhas mãos vazias. Seria a glória da trapaça, mas não me ocorreu na hora. Além disso, vai que o isqueiro escorregasse pela minha perna e caísse aos pés dele, surgindo da boca da minha calça. Ainda seria pego e punido pela tentativa de esperteza.
Mas o importante da lição foi que não temos necessidade de esconder um nada, quando nada for apenas isso: nada.
Georges Dumézil, um dos maiores filólogos e estudioso da mitografia, afirmava — não exatamente nessas palavras, mas simplifiquei — que a história é o mítico disfarçado. Se já o foi por toda a existência, tanto mais é nos dias de hoje. Assim criou-se o mito do Rei Arthur, de Júlio Cesar e, para alguns, até de Jesus Cristo durante milhares de anos. Todos, míticos ou históricos, hoje são tidos como verdadeiros por muitos. Exemplos bem óbvios para compreendermos Dumézil.
No mundo atual estamos cheios de exemplos em que o marketing cria mitos e os transforma em história: personalidades artísticas como atores e músicos que têm suas biografias trabalhadas e passam a ser cultuados, políticos que se moldam no mítico como estátuas e passam para a história. Fiquemos por aí, apenas para exemplificar.
Tudo isso para perguntar: se os americanos eliminaram Bin Laden, por que o jogaram nos fundilhos das calças — no mar — em vez de mostrá-lo ao mundo? Há uma corrente mundial que há anos afirma a inexistência de um Bin Laden com todos esses atributos míticos que lhe são imputados. Tudo não passaria de uma farsa, ou um faz-de-conta entre os interessados para conseguirem o que desejavam então. Outra teoria da conspiração?
Se for apenas isso, Obama teria o compromisso de acabar com a farsa, como prometeu em suas campanhas e como sempre argumenta ao dizer que seu governo é diferente. Mas, quanta responsabilidade a Obama: ter que eliminar nada! E, pior: depois do nada eliminado, Obama deve ter feito a mesma pergunta que fez meu Professor, Zezinho:
— Como é que se esconde nada?
Por outro lado, se o nada não é nada, por que esconder? Ainda levará tempo para sabermos se estamos na história ou no mítico. Só saberemos se algo escorregar dos fundilhos da calça e cair aos nossos pés, entregando esses meninos arteiros.