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terça-feira, 12 de junho de 2012

Mais um felizardo pessoense

João... pessoas!

(Óscar Fuchs)

Encontrei meu amigo Santana, de Porto Alegre, que não via há muito. Torcedor fanático do arqui-rival de meu time, já nos chamuscamos em várias discussões futebolísticas sem nunca ofender nossas mães, o que já é um trunfo. Sabendo que vivi algum tempo no Nordeste, Santana procurou minha aprovação ao dizer que se mudaria para lá. Concordei absolutamente:
— O Nordeste é maravilhoso!
E completei com uma pergunta:
— Vai para João Pessoa?
Ele gaguejou e disse que não sabia ainda. Então perguntei se iria para viver ou apenas para passar um tempo, como turista.
— Não! — Foi enfático — Vou viver lá!
Então fui enfático, eu:
— Vá para João Pessoa.
Acho que a minha resolução inspirou confiança e ele quis saber mais. Ladainhei as maravilhas da Paraíba e de sua capital, mas sempre exigindo dele o compromisso de ser um morador em João Pessoa e não outro turista esquizóide no Nordeste:
— O problema dos outros lugares no Nordeste é que tudo é feito para turista, nada é natural do lugar. Nas outras capitais do Nordeste só vendem protetor solar fator 30 na praia, sabia?
— Sei...e daí?
— Como “e daí”? — Perguntei, indignado — Qual é o nordestino que usa protetor solar fator 30? Nenhum, só turista é que precisa de protetor solar fator 30! É tudo para turista!
— Aaahhh, percebi.
— Mas em João Pessoa, não.
— Não?
— Não. João Pessoa ainda é uma cidade de moradores. João Pessoa não é só a orla, não é só a praia, tem mais que isso, tem bairros onde vive gente, tem gente em toda a parte, gente de lá mesmo. Na praia você vai ver um garoto vendendo caju e ele não vai dizer “eu podia estar roubando, eu podia estar assaltando” porque ele vende um fruto típico de lá, ele está apenas vendendo caju. J.P. — olha a intimidade! — tem um Centro Histórico onde, por incrível que pareça, a maioria dos frequentadores não é turista, são moradores de lá mesmo! Na última vez que estive lá conversei com um monte de gente que trabalha no comércio, gente que sai do trabalho e vai fazer um happy hour, que sai da orla e vai pra lá curtir boemia, canções, estórias e histórias, gente que vai se encontrar, e não turista que vai pra lá tirar foto reclamando que a iluminação antiga não está boa para sua foto. Claro que tive que ficar de olho nas minhas coisas, mas confesso que fui relapso e me distraí. Acho que levei sorte, porque não sumiu nada! Larápio tem em todo lugar, mas até eles parecem ser mais “comunitarios” em João Pessoa. E fico imaginando os larápios conversando: “Parceiro, aquele cara ali ta com aquele outro cara que é balconista da lanchonete ali do Ponto de Cem Réis, vamo aliviar ele.”
Meu amigo tentou um comentário:
— É, parece que...
Entusiasmado, interrompi sua consideração para continuar mostrando as vantagens de viver na Paraíba Paraíso:
— João Pessoa não é como as outras grandes cidades, apressadas, poluídas, barulhentas, sujas, engarrafadas, estressantes, não. Lá as pessoas ainda se cumprimentam, ainda passeiam, ainda conversam, ainda se encontram, ainda vão a pé aos lugares, ainda se conhecem. Parece cidade pequena, é para viver mesmo, para ter qualidade de vida, que não temos mais em outros lugares.
Sou apaixonado por João Pessoa. Mas a paixão tem justificativa o que, para mim, um racionalista fanático, é meio injustificável já que paixão não se justifica, é irracional... ou algo assim, sei lá, me perdi no raciocínio.
Meu amigo ouviu tudo, balançou a cabeça pensativamente, refletiu um pouco e estava tão convencido de se mudar para João Pessoa que perguntou intrigado:
— Vem cá, você não está tentando se livrar de mim só por causa do futebol, está?