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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Os desconhecidos da história: PUTACOS

(Óscar Fuchs)


Na antiga Grécia viveram dezenas ­­­- senão vintenas! – de filósofos e pensadores.
Conhecemos e veneramos vários deles. Só para citar alguns: Sócrates, o mestre de Platão. O próprio Platão, filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga. Aristóteles, pupilo de Platão e professor de Alexandre, o Grande, cujos escritos abrangem a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Pitágoras gênio da matemática, da geometria e da filosofia grega. E Plutarco, Protágoras, Parmênides, entre outros.
Entre esses outros há um que ainda é mantido na ignomínia e na obscuridade pelos que se dizem intelectuais e estudiosos, ou seja, pela elite acadêmica. Trata-se do grande filósofo grego Putacos.
Putacos (379 – 338 a.C.) nasceu em Páreo, nas imediações de Atenas, na antiga Grécia. Era costume ter o lugar de origem como sobrenome e não foi diferente com ele, que adotou o "de Páreo" ou "Pario", assim como Plutarco Queroneio ou Tales de Mileto.  
Sua maior contribuição foi identificar as bobagens, besteiras e idiotices que os outros filósofos e pensadores diziam em seus discursos. Sim, pois, tanto que falavam aqueles, não venham dizer que nunca disseram uma  tolice.
Depois de tantos anos ridicularizando e diminuindo o pensamento de seus parceiros Putacos foi execrado, desterrado e exilado pelos ditos “sábios”, que não suportavam mais suas reprovações. Foi banido de todo e qualquer compêndio de filosofia e qualquer referência a seu nome foi apagada.
Putacos tinha um comportamento particular e original: toda vez que algum dos estudiosos proferia uma bobagem, Putacos batia a mão espalmada na testa, suspirava longamente e, em seguida, olhava para o céu enquanto pronunciava seu próprio nome. Conta-se que a gota d’água foi num certo final de tarde, com os sábios todos reunidos numa praça, quando Aristóteles proferiu uma de suas máximas:
- A esperança é o sonho do homem acordado.
Ao que Putacos retrucou solenemente:
- Tsc! Tsc!
E antes que conseguisse dizer mais alguma coisa ou fugir já estava com todos aqueles contemplativos filósofos por cima, descendo-lhe a porrada e disputando uma chance de acertar-lhe “uma bifa nas fuças”, como justificou mais tarde um dos venerandos.
Putacos ficou conhecido entre os pensadores da época como  um destruidor de reputações e de frases feitas. Por isso foi expurgado.
Mas nem a execração, nem o exílio, nem o banimento conseguiram omiti-lo da história. Ainda hoje lembramos dele todas as vezes que ouvimos um apresentador idiota desses programas de domingo à tarde, lembramos dele todas as vezes que ouvimos ou lemos um cronista esportivo pseudo-sábio dizer todas aquelas bobagens, todas as vezes que um imbecil se acha um grande gênio e se promove, enfim, lembramos dele todas as vezes que percebemos alguém proferir uma besteira com ares de sabedoria.
Estamos honrando a memória desse grande filósofo e mantendo vivo seu legado cada vez que ouvimos uma idiotice e, na sequência, batemos a mão espalmada na testa, suspiramos fundo, olhamos para cima e evocamos seu nome completo, pausadamente:
- Pu-ta-cos Pa-rio!