CHEGOU!!! CRÔNICAS & RABISCOS, em março, grande lançamento! Crônicas de humor, edição ilustrada

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

BÚZIOS ego

Búzios. Estávamos assistindo ao noticiário da TV no quarto da pousada quando deram a previsão do tempo para várias cidades do Brasil. Ao terminar, a amada companheira reclamou:
— Não deram a previsão para Búzios!
Retruquei:
— Búzios não é no Brasil, meu amor, — e completei — talvez nem no continente americano.
Adoro o humor que reside nas megalomanias. E a impressão de Búzios é essa mesma: tão megalomaníaca que chega a ser engraçada, meio ridícula na sua ostentação, na sua fleuma tupiniquim, na sua arrogância presunçosa. Tudo o que é assim, megalomaníaco, provoca humor e risos.
Logo de chegada, ao irmos a um restaurante, o garçom nos atendeu com um buenos dias. Disse a ele que não falasse espanhol e ele tascou:
Sorry, sir.
Expliquei ao garçom que sou brasileiro e que poderíamos falar português. Senti-me como aqueles milhares de migrantes que estão invadindo a Europa: “lá vêm esses clandestinos fugidos encher o saco”, pois o garçom fechou a cara e ficou emburrado durante toda a refeição. Não sei se foi porque me considerava um invasor de seu "país", se foi porque não poderia exercitar sua bilinguidade ou se foi porque sabia que brasileiro gasta pouco. Se foi por causa da última conjectura, ele estava certo: escolhemos pratos baratos.
Costumo dizer que Búzios é a mais badalada praia do território argentino. Mas estou errado. Dos argentinos, Búzios apreendeu a megalomania e o egocentrismo, pois na verdade é a mais badalada praia do território buziano. Búzios é uma península isolada psicologicamente do mundo. Se não fossem dez toneladas de terra naquele istmo que liga Búzios ao continente, seria uma ilha. E adoraria ser uma ilha, pois está convencida de que é muito mais importante que o resto do mundo.
Argentinos às pencas. Agora imagina: você vai para um lugar à beira-mar, que foi uma colônia de pescadores e onde abundam ostras, lagostas, caranguejos, lulas, peixes miles para se fartar de frutos do mar,  mas o prato principal em todos os restaurantes é... picanha. Picanha e pizza são os pratos típicos da gastronomia independente de Búzios. Os frutos do mar deixaram a desejar até pro peixinho frito de qualquer boteco aqui do nosso país. Claro, nosso país significa “fora de Búzios”.
As suspeitas da independência total de Búzios em relação ao resto do planeta se confirmaram. Caminhando pela orla, encontrei uma placa que retrata em desenho como Búzios se separou — vejam só — do Paleocontinente Gondwana! Ali explica que a terra tinha um continente, o Gondwana, que foi dividido em várias partes continentais: África, Índia, Antártica, Austrália, América de Sul e... Búzios. Isso mesmo. Além desses, não aparece nenhum outro nome de cidade, de estado, de país ou de continente, só “Búzios”.





Como Búzios se separou do Paleocontinente Gondwana!

Búzios não está nem aí para o resto da Terra, quiçá do Universo! Búzios, se falasse — e não duvido disso —, diria:
— Pois é, infelizmente tenho que dividir esse planeta e meus mares com outros continentezinhos e territoriozinhos.
Sim, porque pensa que os mares são seus, como pensam os ingleses.

Já tinha formulado todas essas impressões de Búzios depois de chegar aqui em casa. Então fui vestir uma dessas camisetas baratinhas “I Love Búzios” que se compram para dar de lembrança aos amigos. Antes de vestir, dei uma olhada na etiqueta na esperança de que dissesse algo de diferente, afinal, conhecendo Búzios... Pois, pasmem, minhas impressões estavam totalmente corretas. Na etiqueta estava escrito nada mais, nada menos que: Made in Búzios. Que ego!

domingo, 13 de dezembro de 2015

Formador de Opinião

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Golpe


sábado, 19 de setembro de 2015

Onofre Novato

Onofre Novato, o gaudério novato, é um gaúcho urbano, da capital, que resolveu buscar suas origens. Apeou da cidade e montou no cavalo das tradições gaúchas com mala-de-garupa, cuia e hematomas.

Onofre Novato, nas lides campeiras



















sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Semana Farroupilha

Charges de 20 de Setembro, semana Farroupilha, que fiz há anos. Mas é sempre a mesma coisa: chuva...chuva....chuva...





segunda-feira, 13 de abril de 2015

Só Penso em Sexo!

JH tinha a letra e pediu a música. Apresentamos no teatro incorporando Tom Jobim, Nara Leão, João Gilberto e Carlos Lyra... foi um sucesso. Curtam, com Fróide Explica, Só penso em sexo:

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Socorro!



(Óscar Fuchs)

Chegamos a João Pessoa lá por 1985, meu amigo Afonso e eu. Qualquer dia conto a aventura dessa viagem de ônibus através do Brasil, durante quatro dias e três noites.
Desembarcamos e fomos levados para uma pensão que ficava numa ruazinha de Tambaú. Quando saímos de Porto Alegre, os familiares recomendaram:
— Juízo, hein!?
Como manter o juízo se a pensão ficava a uma quadra da praia, em cima de um boteco, ao lado de um prostíbulo e a frente de um cassino clandestino? Tivemos que fazer muito esforço. Embora, talvez, não tenhamos nos esforçado o suficiente.
Logo no primeiro dia na pensão, uma garota veio até nossa mesa sorrindo e perguntou:
— Vão querer o quê de almoço?
— Qualquer coisa. — Respondemos — Arroz, feijão, um bife...
A garota se chamava Maria do Socorro, era filha da dona da pensão e todos a chamavam apenas de Socorro. Muitas garotas em João Pessoa eram chamadas de Socorro.
Afonso e eu íamos à praia tentando paquerar umas meninas, mas nunca dava certo. Na areia, planejávamos:
— A gente podia fingir que está se afogando.
— Pra quê?
— O que a gente grita quando está se afogando?
— Mmmm... Socorro! Socorro!
— Então, dezenas de Socorros virão nos salvar!
Também nunca deu certo.
Voltou Socorro da cozinha trazendo dois pratos e os colocou sobre a mesa. Pasmei. O bife era uma posta de carne com a altura de uma tábua e o diâmetro de um livro. Guri ignorante do Sul — lá do Sul mesmo! —, terra de muita e diversas carnes, nunca imaginara um bife daqueles no Nordeste.
A refeição foi incomparável. Tanto que repetimos o prato por cinco dias seguidos! Mas, no sexto dia, parecia haver algo diferente. Chamamos Socorro:
— O que é que tem de diferente hoje no bife?
— Nada, é o mesmo de sempre. — Respondeu.
— Impossível. — Disse Afonso — Hoje tá enjoativo.
Ela gritou para a cozinha:
— Mainha! Botou mais alguma coisa no bife?
— Não! — Respondeu a dona da pensão.
Ficamos nos olhando por alguns instantes e retomamos o almoço, mas intrigados.
Convencidos de que o “mau paladar” fora culpa nossa — talvez o caldinho que consumíramos na praia na manhã anterior, ou a cachaça que acompanhava o caldinho, ou os dois combinados, ou até mesmo porque estávamos cheios de trago! —, na manhã seguinte evitamos o caldinho. A cachaça, não mesmo.
— Temos que eliminar os elementos um a um. — Justificamos.
E, ao chegarmos para o almoço, pedimos o mesmo prato de arroz, feijão, um bife...
— Argh!
— Vixe! — Disse eu, já incorporando o falar local.
Ainda enjoativo. Socorro jurou beijando-os-dedos que era o mesmo de sempre, mas também ela ficou intrigada. Então, como se uma luz lhe acendesse, abriu seu sorriso simpático e gritou para a cozinha:
— Ah, mainha! É que eles tão acostumados com carne verde!
Já tinha visto carne vermelha, carne rósea, carne marrom, carne branca, até carne amarela, mas... Afonso e eu nos olhamos e perguntamos em uníssono:
— Carne verde!?
— É! — Explicou ela — Carne de vaca.
— Isso aqui não é carne de vaca? — Ainda em uníssono.
— Não. É de baleia.
Mais tarde fiquei sabendo que a carne de baleia, por seu alto teor de gordura, pode se tornar enjoativa, sobretudo para quem não é acostumado. Ainda boquiabertos, exibindo pedaços de carne de baleia sobre a língua, grunhimos:
— Mas... onde vocês compram carne de baleia?
— Cabedelo. — Respondeu Socorro.
Impressionado, passei a descobrir o que pude sobre a caça às baleias, que ocorreu no porto de Cabedelo, na Paraíba, até 1987, quando foi proibida.
Hoje, de volta ao sul há anos, quando amigos se reúnem para um churrasco, todos tentam se vangloriar da carne mais diferente que comeram:
— Já comi carne de tatu! — Diz um.
— Pois, eu já comi carne de capivara! — Diz outro.
— E eu, que já comi carne de cotia!? — Diz um terceiro.
Um verdadeiro campeonato, como se fosse uma disputa, uma competição para saber o que de mais estranho cada um comeu. Depois que todos terminam de arrotar a carne diferente que já comeram, dou meu lance:
— Já comeram carne de baleia?
Me olham boquiabertos e perguntam:
— De baleia!?
Em uníssono. 

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O que é o William Homer?

(Óscar Fuchs)

Fazia muito tempo que não prestava atenção no Jornal Nacional, da Globo. Até porque não presta. Mas, dia desses, William Homer e sua parceira, Sandra (é isso?), conseguiram chamar minha atenção: são tão “participativos”!  Como eles conseguem disfarçar tanto e, ao mesmo tempo, espalhar aqueles conceitos na maior cara-de-pau? São atores.
Aí, fiquei pensando (coisa que o William Homer e a Globo não gostam: que as pessoas pensem), mas fiquei pensando: e se eu fosse o William Homer, será que eu teria a cara-de-pau de divulgar aquilo tudo em rede nacional? Mesmo que seja um noticiário que não tenha mais audiência, mas que me paga um ótimo salário e me dá um cargo figurativo. Será que eu seria tão volúvel quanto William Homer?
De repente lembrei de Marx — não o Karl, mas o Groucho: "Só há um forma de saber se um homem é honesto... pergunte. Se ele disser sim, então você sabe que ele está mentindo." Ou algo desse gênero, não lembro as palavras exatas.
Pois é. Se a gente perguntar ao William Homer, o que será que ele dirá?
- Sou um jornalista.
Ora, jornalista ele não é, porque jornalista tem uma ética — ou, teria — e jamais aceitaria imposição de seu empregador. A menos que a ética do William Homer tenha ido pro espaço. Ou que a ética dele seja a mesma de seu empregador, que a gente sabe que não tem ética nenhuma.
Na verdade, até admito isso, afinal, quem tem um salário daqueles tem que fazer o que o patrão quer... lembrei de Groucho Marx outra vez: Há tantas coisas na vida mais importantes que o dinheiro... mas, custam tão caro!”

Vai ver que é isso! William Homer tem que sustentar a família que é grande e, nessa hora, não importa se há pessoas morrendo na África ou na Palestina... “os meus primeiro!”
Há outra possibilidade: William Homer está iniciando na carreira e, a gente sabe, todo iniciante faz e escreve bobagens pois está apenas começando e... Lembrei agora de um ensinamento do grande — em todos os sentidos, ele era diretor de redação e tinha dois metros de altura! — Jacinto Barbosa, grande alma...
Eu era iniciante em jornalismo. Jacinto Barbosa mandou-me cobrir uma manifestação. Fiquei cinco horas no local e... não houve manifestação! Depois de uma tarde inteira naquela praça, voltei à redação. Fui direto a ele e relatei:
— Olha, Jacinto, fiquei a tarde toda lá... e não aconteceu nada!
— Nada?
— Nada. — respondi.
Então, com sua grande ética de jornalista, com sua grande generosidade e com sua grande vontade de ensinar aos mais jovens, ele me disse:
— Escreva. O que não acontece também é notícia.
Pois bem, depois disso tudo, de todas essas filosofadas e interrogações, fico perguntando: O que é o William Homer?
E não há mais um Jacinto Barbosa pra me responder com aquela sabedoria e simplicidade. Snif!

sábado, 24 de janeiro de 2015

Musiquinha noturna

(Óscar Fuchs)


27 de Janeiro. Nesse mundo vertiginoso, pra que lembrar disso, né? Mas é aniversário de um dos maiores gênios da humanidade. Ele tinha entre 6 e 8 anos quando fez uma opereta,  a primeira de suas obras magníficas. Daí para diante, revolucionou e criou maravilhas. Estou falando de Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart. Na verdade, afora algumas cartas que escreveu (sobretudo para quem ele fez A RAINHA DA NOITE, sua irmã, porque – segundo ele - só ela poderia alcançar aquelas notas agudas à época. Veja, ouça e delicie-se com  https://www.youtube.com/watch?v=r37l5eNJOR0&list=RDr37l5eNJOR0#t=16https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl) Enfim... na verdade, o Amadeus não passa de uma lenda.. Aliás, ele só usou o nome Amadeus por sugestão de um amigo, em duas ou três cartas. Curioso é que, em latim “Chrysostomus” significaria “devoto de Cristo”, pois ele nasceu no dia de São Crisóstemo, e “Theophilus” significaria “amado por Deus”. Daí o pseudônimo Amadeus... que ele usou muito pouco.

Esse gênio da música, o maior compositor de todos os tempos, foi admirado e tentaram imitá-lo sempre. Um desses exemplos foi Beethoven, que declarou que o admirava e que queria fazer algo parecido. Quando Mozart “tentava” ser  Kepellmeister (mestre de capela) em Viena, não conseguiu, porque segundo o regente, Mozart não tinha capacidade. Quão sábio pode ser um regente! Pois bem, no “estágio” para ser Kepellmeister, Mozart  teve que se submeter a cargos mais baixos e, dentre as obrigações desses “cargos-mais-baixos”, cabia ao candidato a Kepellmeister dar aulas de música. Um dos alunos de Mozart era o príncipe de Viena. Quanta responsabilidade! Se o príncipe não aprendesse nada, a culpa era de seu professor, afinal o príncipe era um “designado por Deus”... e não se podia cogitar a ignorância de um príncipe!
Num daqueles dias, o príncipe inquiriu seu mestre:
- Her Mozart, quando poderei compor uma obra?
Ao que Mozart respondeu:
- Ainda é cedo.
O príncipe, então, retrucou:
- Mas, Mestre, quando tinhas apenas oito anos já tinhas composto uma opereta.
Ao que Mozart explicou:
- É... mas nunca precisei perguntar a ninguém “como se faz”.

Gostam de uma boa história? Tenho uma ótima para lhes contar:
Se você estiver em Roma, em Istambul, em Nova York, em Madri, em Toronto, em Buenos Aires, em Hong Kong... Como você chamaria um taxi? Qual palavra você usaria? Levantaria a mão e gritaria:
- Taxi!!!

Lá em Montevidéu passei por isso. Foi naquele domingo da eleição: Tabaré versus Pou, esquerda contra direita. Chovia ... chovia.... cristo, quanto chovia!  Minha mulher e eu fomos a um restaurante próximo a um shopping e, sem querer, achamos aquele restaurante que a gente não encontrava e que estava recomendado no guia. Achamos!

Taxi em Montevidéu é difícil... imagina com chuva! Taxi em Montevidéu tem um vidro que separa passageiros do motorista... e tem uma “gaveta” na qual você “enfia” o dinheiro ao pagar a corrida. Só em “pesos” uruguaios.

Muita chuva, poucos taxis. Combinei com minha mulher: quando o taxi chegar, entre no banco de trás que eu entrarei no banco da frente, assim a gente se molha menos.

E assim, foi: sentei no banco da frente. A chuva batendo.. e minha mulher lá, no banco de trás, atrás do vidro, isolada. No banco da frente, ouvi uma música, volume muito baixinho... então perguntei ao chofeur, em portunhol:
- Que estás ouvindo?
- Schubert.  – Respondeu ele, e completou - Prefiro Mozart, pero...

Não sou muito fã de Schubert, disse ele. Nem eu, disse eu. Como aquele colega trabalhador motorista de taxi, eu também prefiro Mozart. A partir daí, a chuva forte, o chofeur e eu falando sobre música. Pouco se enxergava, mas continuávamos rumo a nosso destino. Ele entendia tudo de música clássica. Seu pai fora músico e ensinou-lhe como apreciar. Nos deleitamos falando de Mozart, nosso ídolo. Ele fazendo o percurso, feliz da vida por poder conversar com alguém que compartilha sua paixão, Mozart, e eu também... mais feliz ainda!
Perguntei se ele sabia de onde vinha a palavra “taxi”, já que trabalhava nisso e era seu “meio-de-vida”. Imediato e enfático, respondeu: “SIM!”
E contou-me toda a história que eu já sabia, mas que ouvi com extrema atenção e respeito porque, sem dúvida, ele é muito mais digno de contá-la do que eu. Segue a história:
“Naquela época, à época de Mozart, músicos e compositores eram considerados meros instrumentos do Estado, serviam apenas para deleitar o rei e distrair o povo.
Para sobreviver, compositores tinham que se submeter e vender seus trabalhos, daí a importância de ser Kepellmeister, pois sendo o mestre do rei, mais prestígio se teria e, portanto, mais se poderia cobrar.
Em Viena havia um barão muito rico. Ele alugava coches ou charretes. As pessoas que queriam ir a uma ópera ou a um concerto da corte, tinham que fazer isso em grande estilo. Porém, muitas famílias não tinham condições financeiras ou de espaço para manter uma charrete, uma carruagem ou um coche. Percebendo isso, esse barão passou a alugar coches para aquelas pessoas que queriam ir ao concerto do rei e que não podiam chegar lá a pé. Questão de imagem!
Esse barão tinha uma filha e ela completaria quinze anos em breve (lembram da tradição das debutantes?). Ora, para todas as ocasiões especiais, mandava a tradição e o ritual da corte que se fizesse “algo especial”, enfim, que o pai encomendasse uma peça, uma música, que seria a marca daquela cerimônia. No caso, uma adolescente que está se tornando mulher.
Mozart fez muito isso, para sobreviver. Até música para circenses ele fez! Bem, Mozart conseguiu ser contratado para fazer a peça de debutante da filha daquele barão riquíssimo e nobre! E não fez por menos.
Mozart criou uma música que, até hoje, é citada como uma das maiores maravilhas do mundo: Eine Kleine Nachtmusik. Isso significa, numa tradução literal, “um tipo de música noturna”. Já, numa tradução livre, seria: “uma musiquinha na noite”. Que “musiquinha”, hein?”
Tenho certeza que qualquer pessoa que ouvir apenas a introdução, vai identificar: https://www.youtube.com/watch?v=Ytpj0lg5Cmk&list=RDYtpj0lg5Cmk#t=0
Não terminou ainda! Imagine que você esteja saindo de casa para assistir a um concerto de Mozart. Imagine que você vai pegar um taxi... você tem que pegar um taxi para ir a um concerto no centro da cidade! Imagine que esse concerto seja a obra Eine Kleine Nachtmusik e você reclama porque não consegue achar um taxi. Pergunto: sabe por que esse veículo que você está esperando ansiosamente e do qual você precisa tanto, se chama taxi? Talvez nem o próprio motorista saiba.
Pois bem, você só vai chegar a esse concerto (Eine Kleine Nachtmusik), com toda a sua pompa e circunstância (Elgar), usando aquele motorista de taxi. Ele só está ali para levá-lo onde você quiser. Pois aquele barão que encomendou aquela música a Mozart, para sua filha que fazia 15 anos, que alugava carruagens e coches, que fazia parte da corte... se chamava Barão Von Taxi!  Por isso, em qualquer parte do mundo que você esteja, “taxi” é uma palavra universal, por causa daquele Barão! Mas, sobretudo, por causa de Mozart, que nem viveu o suficiente para saber disso.”

E chegamos.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Todos são um só

(Óscar Fuchs)





-Estive pensando, Iahvéh, acho que seus seguidores são magrinhos porque não comem carne de porco.
- Ora, Deus, não é bem assim. Veja o Buda aqui, bem gorduchinho e é vegetariano.
- Pois é. Se comendo só vegetais já sou assim, fofinho, imagina se comesse carne como os não-budistas.
- Olha o colesterol, Buda!
- Vira essa boca pra lá, Alá.
- O Alá adora quibe cru e tabule.
- Ah, me dá água na boca, Iahvéh: Quibezinho cru, um pãozinho árabe, um azeite extra virgem... mmm...
- Lembrei agora, Deus, por falar em “virgem”...
-Nem toque no assunto, Baal. Erro de tradução: “traduttore, traditore”.
- Bem sei. Estava escrito em hebraico e só os seguidores de Iahvéh, meus seguidores, entendiam o sentido real da palavra “virgem”.
- Já o Baal aí entende tudo de virgens.
- Que é isso, Buda? Acusação agora? Era só um ritual! Virgens defloradas no templo de Baal... Também não era bem assim. Pior é Deus aí, um pai desnaturado que sacrificou o próprio filho.
- Êpa lá, êpa lá! Não me julguem sem saber de toda a história. Ele é Eu mesmo, ele é Ele mesmo e ainda é o Espírto Santo. Três vidas! Ele ainda tá bem no vídeo game.
- Bobagem, ele nem existiu.
- Ô, Iahvéh, não vamos começar de novo com essa discussão se meu filho existiu ou não existiu.
- É isso aí, vamos ficar zen. Ponham-se na posição de Buda, como estou fazendo. Ai! Não consigo mais dobrar a perna, vou ter que perder uns quilinhos...
- Usa aqueles panos cor de laranja que teus seguidores usam. Pra esconder as gordurinhas aquilo é uma maravilha.
- Agora não dá mais, meu amigo Alá. Já me retrataram assim... e imagem é tudo. Já falei com os marketeiros, mas eles disseram que...
- Foi o que disseram meus assessores de marketing.
- É, os meus também.
- E os meus, idem.
- É muito marketing. Dia desses um deles confundiu hindus com budistas. Seria a mesma coisa que confundir judeus com cristãos só por causa do Velho Testamento. E os seguidores incautos, coitados... são cruéis.
- Mas, pensando bem, eles foram mais cruéis comigo.
- Acha mesmo, Deus? Por que?
- Ah, Iahvéh, eles resolveram: vamos retratar Deus! E, pronto: me pintaram com essa túnica branca. Qualquer pneuzinho na barriga parece um pneu de trator. Se ainda fosse uma cor mais pastel... pelo menos disfarçaria um pouquinho.
- Alguns de meus seguidores só usam preto... até o chapéu.
- Básico, pretinho básico! Agora, sacanagem mesmo, fizeram comigo: gordo desse jeito e me retrataram pelado, sentado e bochechudo. Não há Buda que convença com essa imagem!
- Ainda bem que não me retrataram.
- É mesmo. Por que seus seguidores não te retrataram, Alá?
- Ah, fui esperto. Eu disse a Maomé: sem retratos! Sem retratos! Sabe-se lá o que eles inventariam.
- É, eu devia ter feito isso com meus Cristãos... mas na hora, nem atinei.
- Viram o que fizeram com os Deuses do Egito? Eu estou pelado e gordo, mas pelo menos ainda sou... digamos... “normal”. Você está de túnica branca que mostra seus pneuzinhos, mas pelo menos é “normal”. Porém, aqueles pobres Deuses do Egito...
- Nem me fale. Por isso eu não quis ser retratado. Misturaram corpo de gente com cabeça de pássaro, corpo de gente com cabeça de chacal... tem um que tem cabeça de jacaré! Virgem Santa!
- Já pedi para não tocarem nesse assunto de virgem.
- Desculpe, Deus, saiu sem querer.
- O Iahvéh também não tem retrato, tem?
- É, não tenho. Mas, pagando bem... que mal tem? Desde que não seja retratado como os egípcios, sempre de perfil... Esse meu nariz adunco não me favorece.
Nesse instante alguém dá três batidinhas na porta e pergunta:
- Senhor Deus, está tudo bem aí?
- Sim, está.
- É que vos ouvi conversando e...
- Fique tranquilo. Só estava falando comigo mesmo.

¹ Se preferir, mude o nome de Deus para SEU Deus nos quatro últimos parágrafos. Dará na mesma, afinal, são todos um só.
² Sugiro a leitura do conto Os nove trilhões de nomes de Deus, de Arthur C. Clarke, escrito em 1953. (http://letras.cabaladada.org/letras/nove_trilhoes_nomes.pdf)