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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O que tem por baixo


Resurge a era da Terra plana. Pelo que entendi, flutua feito um prato ao redor do sol, se é que ainda não aboliram o movimento de translação. Só que o planeta não seria exatamente plano. É, digamos, como um pão árabe, com altos e baixos, planícies e montanhas, montes, morros e vales.

A grande questão que vem desde a idade das trevas é, o que existe lá no fim? Além da borda? Segundo alguns, um abismo ornamentado por uma linda cachoeira, maior que Cataratas do Iguaçu, que não se desfaz em nada, por que não há rochas lá embaixo. Aquela água toda fica flutuando pelo espaço. Na maior parte é água salgada, o que imagino que faça um mal astronômico ao Universo e talvez estejamos cercados por todos os lados de ferrugem.

Pensei nisso tudo e também num colega de redação que tive. Toda vez que via uma mulher exuberante, ficava pensativo por instantes e murmurava em seguida:

-­ É linda, perfeita, sensual, insinuante, elegante, num vestido sexy...o que tem por baixo?

Sobre a Terra plana, a mesma dúvida me ataca ­- tento me defender, mas ela me acerta um direto no raciocínio:

-­ O que tem por baixo?

Logo, outras dúvidas chegam em apoio àquela e também me atacam. Agora com paus e pedras:

-­ Ali por baixo, teria mais terra? E as raízes, ficariam penduradas assim, como aquelas plantas que flutuam na água? E as pedras, caem?

Fico lá me contorcendo e gemendo depois de sofrer com dúvidas tão contundentes. Não são bons tempos para se fazer perguntas pertinentes.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

domingo, 6 de janeiro de 2019

Fashionite

Óscar Fuchs


Doença inflamatória e contagiosa que ataca o senso do ridículo. Pode ser aguda ou crônica.

Aguda: ataca em intervalos. O paciente passa a sentir a necessidade irrefreável de usar determinado tipo de vestimenta, acessório, corte de cabelo, etc. Após um período de convalescença, retoma a consciência crítica, acarretando a recuperação.

Crônica: também chamada de não tem mais jeito. O paciente vive em estado de doença, adotando toda e qualquer tendência que percebe na televisão e na internet. Nesse estágio, a doença já afetou o cérebro e não permite distinguir excessos (cores, comprimentos, exageros), levando o paciente a padecer de olha só aquilo!, de tem cada tipo! e de que figura!, males relacionados à falta de percepção da vítima de fashionite crônica.

A fashionite apareceu no século XIX, quando mulheres começaram a usar armações incômodas e exageradas sob as saias. A mania se estendeu para várias partes do mundo, dando início ao “modismo”. Com o avanço dos meios de comunicação, “modismo” se globalizou e recebeu influência de outras culturas, foi propagado e virou “fashion”, donde vem a fashionite.

A fashionite começou a ser transmitida por revistas, depois pelo rádio, pelo cinema, mais tarde pela televisão e hoje se propaga com virulência pela internet, por redes sociais, canais de youtube e programas de TV que divulgam notícias e fofocas de sub-celebridades, jogadores de futebol e pseudo-famosos, os principais vetores de transmissão da doença às massas.

Sintomas: Percebe-se a instalação da doença quando surgem alterações nos pelos do corpo (corte de cabelos ridículo, barba exagerada, pelos pubianos e sobrancelhas delineadas), na fisiologia (face distorcida, glúteos trabalhados no silicone, bíceps, tríceps e seios incompatíveis), alterações na fala e na inteligência, repercutindo na forma de vestir e se comportar.

Hospitais, clínicas e laboratórios farmacêuticos não estão preparados para lidarem com a doença. Quando se fala da fashionite, a tendência -­ palavra muito apropriada -­ é tornar-se uma pandemia. No entanto, não se tem ainda uma projeção de até que ponto a doença pode afetar as pessoas no futuro. Atualmente, rebolada até o chão gravada e transmitida para o grupo do watsap foi considerado o estágio mais avançado da doença.