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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

DIMENOR - menino de rua


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Ano Novo

Réveillon, mais prevenção. Você emendou natal e ano novo e continua bêbado, portanto, prepare-se para o ridículo. Mal começa a festa e, como num passe de mágica, surge um copo em sua mão. Ante o olhar de reprovação de sua mulher, você tenta largá-lo em algum lugar mas não consegue, ele já se acoplou à sua mão, como se fosse parte do seu corpo, uma extensão do seu braço. Tanto é assim que quando você e seu primo trocam os copos, chamam de transplante de órgãos. O copo, assim como seu fígado ou seu coração, necessita de constante abastecimento e vocês chamam a isso de transfusão. Atravessam a casa imitando uma ambulância com a sirene ligada cada vez que vão ao barzinho para uma transfusão. Todos se irritam, menos o vovô que em meio aquele batalhão de gente vestindo branco, puxa a blusa daquela sua prima sexy:
— Enfermeira, preciso fazer xixi. Me ajuda? — E dá um sorrisinho safado.
Se você passa o réveillon na praia, compre dois retângulos de espuma do tamanho de seu tórax. Com fita adesiva, faça um colete e vista-o por baixo da camisa. Por quê? Porque você chegou à praia no dia anterior, ansioso para ir ao mar, pegou um solaço e suas costas estão como uma manga-rosa. Pense quantas pessoas vão abraçá-lo e lhe dar tapinhas ardentes nas costas. Sem contar que o colete servirá de amortecedor naquele inevitável tombo depois das vinte e oito transfusões.
Você já está balançando mais que antena de rádio amador. Daqui por diante, a cada balão que estourar, a cada travessa que cair, você vai dar um pulo aos gritos:
— Feliz ano novo!!!!!
— Que ano novo? Ainda faltam duas horas!!! — Exclama sua mulher.
— Duas horas? Então, uuuóóóóóóóóóóóóóó!!! — E você sai correndo pelo corredor da casa para outra transfusão, imitando ambulância.
— Movimentada a U.T.I. hoje, não? — Comenta o vovô, pensando que você é o médico.
Comes e bebes. Nos “bebes” você já se afogou há tempo. Agora vêm os “comes”. Você reclama que o punhadinho de lentilhas que lhe deram estava duro e que deveria ser mais cozido. Saiba: Aquele punhadinho de lentilhas não é para jogar na boca como pipoca e mastigar, mas sim para colocar no bolso e levar durante todo o ano, para dar sorte. Só quando lhe dizem isso você compreende aqueles grãos que germinaram no bolso da sua calça branca. Estavam lá desde o ano passado.
As duas primas gostosas chegam com uma bandeja e perguntam:
— Alguém quer comer noz?
Você e seu primo se atiram sobre elas, agarram as duas e tentam tirar-lhes as roupas. A família escandalizada. Sua mulher chorando e a tia compreensiva tentando explicar a vocês que se trata de noz, com “z”. Mas antes que ela consiga estoura um balão e vocês dois dão um pulo aos gritos:
— Feliz ano novo! Feliz ano novo! — E se abraçam comovidos.
— Ainda falta uma hora e meia!!! — Gritam todos, já saturados das suas estripulias.
— Ainda? — Perguntam vocês. — Uuuuuóóóóóóóóóóóóó!!! — E correm para outra transfusão.
Porém, vocês já terminaram com a bebida. A última coisa bebível que ainda havia era a mamadeira com chazinho do afilhado. Você roubou do pobrezinho e serviu on the rocks. Agora está arquitetando um plano para esvaziar o aquário que o maiorzinho ganhou de natal. Seu cunhado argumenta que aquela coisinha vermelha nadando lá dentro é meio indigesta.
Uma das tias, santa ingenuidade, tentando dissipar o mal estar pergunta se todos estão usando roupa de baixo nova. Você e seu primo fazem um streap tease para mostrar as cuecas que ganharam. Ao vestir-se para a festa, porém, você pegou qualquer cueca, justamente a que está com um furo na bunda. Em vez de ficar vermelho e sem jeito, você dá uma gargalhada. Sua mulher corre para o quarto da irmã aos prantos. O vovô puxa alguém e pergunta:
— Morreu o paciente aí do lado?
Para evitar maiores constrangimentos, resolvem antecipar a ceia da meia-noite e alguém diz que já podem trazer o porco. Você pega aquele sobrinho que estava brincando no quintal, todo sujo, e o coloca de quatro sobre a mesa com uma maçã na boca. Só você, seu primo e o menino porco acham graça.
Com tanta humilhação, sua mulher o empurra para um quarto. Você vai cambaleante tentando beijá-la:
— Mas agora, benzinho!? Assim, no meio da festa? Ah, já sei, você quer entrar o Ano Novo com prazer, com muito prazer...
— Enfim, chega a meia-noite. Você acorda com o espocar dos fogos de artifício e os gritos de “Feliz Ano Novo”. Está deitado, só de cueca, ao lado de um ursinho de pelúcia todo babado. Você se levanta e, ao chegar à sala, vê todos aos abraços e beijos, rindo, gritando e se felicitando. Com passos firmes e resolutos, vai até eles aos berros:
— Vão embora! Saiam! Vão todos embora! Eu quero dormir! Vocês me acordaram! Eu tenho que trabalhar amanhã cedo, pô! — E expulsa todos empurrando as pessoas porta afora em meio a palavrões e ofensas. — Saiam já da minha casa!
Então alguém lhe diz que aquela é a casa do seu cunhado, não a sua.