Telefonema interceptado
entre dois dos temidos terroristas brasileiros:
— Alô?
— Oi, sou eu. Alguma
novidade do atentado?
— Vem me visitar
amanhã, o garoto é uma peste.
— Que garoto?
— Meu sobrinho,
o atentado.
— To falando da
explosão!
— Ah, é mesmo. Alguma
novidade?
— Foi o que eu
perguntei.
— Ah, tá...
quando vai ser?
— A gente tá
pensando no domingo, mas meu time tem jogo do brasileirão. Só se for depois das
seis.
— Ih, o jogo de domingo
é às seis e meia, cara. Se explodir vai ter que ser depois de nove da noite.
— Tá, então fica
pra segunda-feira.
— E quem vai
ser?
— O homem-bomba? Eu não posso porque na segunda-feira trabalho.
— O homem-bomba? Eu não posso porque na segunda-feira trabalho.
— Pois é, cara,
eu também queria pedir pra me deixar fora dessa que eu vou ter um compromisso
logo depois da explosão, sabe...
— Ninguém tá
fora, ninguém tá fora...
— Ué, e você?
— É que eu to
coordenando tudo, entende?
— E como vão
escolher a vítima... digo... o felizardo?
— Acho que vai
ser o mesmo método dos caras lá do Oriente.
— Mérito e
fidelidade?
— Não, no
palitinho. Mas, e o material, tá pronto?
— Quase. O
Marcelo... ups, desculpe... Qual é o codinome secreto do Marcelo mesmo?
— Deixa eu ver
aqui... putz, caiu minha internet... mas eu tenho anotado... peraí. É o Marcelo
Frei ou o Marcelo Caju?
— Ih, sei não.
Aquele moreninho, cabelo crespo, de óculos... Acho que é o Caju.
— Tá, se for o
Caju, o codinome secreto dele é Bilu-Bilu.
— Bilu-Bilu!?
— E o irmão dele
é o Tetéia.
— Tá. É aquele
de João Pessoa, né?
— Não sei, já te
digo. Ô mãe, o Bilu-Bilu é de onde? Olha,
minha mãe disse que é de Salvador.
— Tá, pois é,
ele ficou de conseguir um material aí.
— O que tá
faltando?
— Cinto.
— Sente o quê?
— Cinto... tá
faltando o cinto.
— Pra que cinto?
— Um cinto de
explosivos, pô! Um homem-bomba que se preza sempre tem um cinto de explosivos.
— Precisa, não!
Bota numa pochete!
— Ixe! Coisa
cafona!
— Compra uma de marca, Pierre Cardin, Calvin Klein...
qualquer camelô vende, aí fica fashion.
— Por falar em
comprar, onde é que eu posso comprar uma barba falsa?
— É só deixar a
barba crescer.
— Não é pra mim,
é pra Ludmila... digo... pra Catófla. Sabe como é, terrorista tem que ter
barba.
— Loja de
fantasia deve ter, várias... ih, peraí que tão batendo na porta. Cara, você não
vai acreditar: a polícia federal tá aqui!
— Cara, que
tudo! Tão caçando terrorista!
— Sou eu! Sou
eu, policial! Podem me prender! Cara, to indo pra outro patamar! Terrorista
perseguido, já pensou que status?
— Faz exigência,
faz exigência!
— Bem lembrado. Aí,
polícia, quero bala-de-goma!
— É isso aí, não
dá mole!
— Eles tão
tirando meu telefone... liga pros irmãos do Oriente, vai me dar moral... chama
a imprensa... ô,mãe, fala que eu era um cara calado e misterioso...eu quero
fazer um comunicado... não desliga, não desliga, seu guarda...
Tu-tu-tu-tu-tu-tu.