O Armando sabia perfeitamente que quando
uma mulher diz uma coisa, na verdade quer dizer outra. Se uma mulher diz “Ai,
tô horrível hoje!”, ele sabe que ela está dizendo “Me elogia, vai!”. Não é à
toa que sempre foi o maior conquistador da turma: sabia perfeitamente o que as
garotas queriam dizer e o que queriam ouvir. Ele treinou para isso a vida toda,
para interpretar as mulheres. Até o
dia em que conheceu a Janete.
Armando já estava naquela idade em
que se definia como um “coroa apetitoso” e em que se considerava um intérprete infalível
das frases femininas. Janete tinha a
mesma idade e tiveram uma conversa rápida quando se conheceram no lançamento de
um livro. Depois de alguns olhares trocados, ele se aproximou sorrindo:
─ Espero que gostemos. ─ Disse, na
fila de autógrafos.
Ela virou-se como se não o tivesse
notado ali às suas costas, mas ele sabia que fingir surpresa é um dos artifícios
femininos.
─ Vou gostar, com certeza. ─ Respondeu
Janete ─ Já li os dois anteriores.
Quando ele fingiu-se impressionado e
disse que ela parecia uma leitora voraz, ela explicou que estava lendo mais nos
últimos tempos. Armando interpretou que ela estava sozinha e passava mais tempo
em casa, lendo.
Alguns dias depois, por acaso ou não,
tiveram outro encontro casual. Trocaram telefones:
─ Mas não me liga ─ pediu ela ─,
manda wats . Correria de trabalho,
entende?
Ele entendia, mas sabia que não era
isso. Na verdade ela não queria ser pega de surpresa, queria pensar bem antes
de responder a ele.
Armando mandou o watts:
─ Que tal um café... um vinho... ou qualquer...
outra coisa?
Perfeito, pensou. Convidativo, bem
humorado, insinuante e o mais importante: provocativo. Da resposta poderia tirar várias conclusões,
só analisando o que ela escrevesse. Mas ela não escreveu. Em vez disso, mandou
uma figurinha. O desenho de uma moça com as mãos espalmadas para cima, com os
ombros encolhidos e que tanto poderia significar talvez, como você que sabe
ou prá quê?.
Tentou outro wats, mais objetivo, onde perguntava apenas topa? E ela respondeu com a figurinha de uma piscadela. O que
significaria essa piscadela? Perguntou-se. Terceira tentativa, outra pergunta e
veio outra figurinha: uma carinha de surpresa. Indecifrável, pensou.
Há três meses Armando vem tentando
interpretar a Janete, mas só recebe figurinhas dúbias. Está tenso, anda
inquieto, ansioso. O que fazer agora? Começar tudo de novo? Anos e anos
compilando mentalmente o sentido das respostas femininas, pra nada! A essa altura
da vida terei que estudar uma nova linguagem?
E enviou a ela a figurinha mais
enigmática que conseguiu encontrar, um pouco por vingança, um pouco por
provocação. Quem sabe agora ela manda uma resposta civilizada, pensou.