CHEGOU!!! CRÔNICAS & RABISCOS, em março, grande lançamento! Crônicas de humor, edição ilustrada

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Assim Seja

Nunca dou conselho porque, afinal, quem sou eu para dar conselho? Sempre dou apenas sugestões. Então, posso te dar uma sugestão? Clique no link abaixo e deixe rolar em segundo plano enquanto lês.
Assim como Mozart, nasci em 1961, num vinte e sete de Janeiro. Mozart nasceu num vinte e sete de Janeiro, não em 1961, óbvio, senão EU seria Mozart.  Mozart, o maior gênio da música mundial, indiscutível. Até certo ponto.
Quando menino ganhei de presente de meu pai dois grandes presentes: uma coleção de livros “encomendada” por correio que se chamava, se bem lembro, “Contos e histórias Infanto-Juvenis”. Meu irmão ganhou “Contos e histórias Infantis”. Apesar de ser apenas um ano mais novo que eu, foi um ótimo argumento para comprovar que ele deveria me obedecer.
Entre “Contos e histórias Infanto-Juvenis”, maravilhas que ninguém mais conhece e sequer lê: Espartacus (de Howard Fast, acho), O Conde de Monte Cristo (Alexandre Dumas), Vinte Mil léguas submarinas e A volta ao mundo em 80 dias (Júlio Verne), Robinson Crusoé (Daniel Defoe), O Homem que queria ser rei (Rudyard Kipling) e tantos outros, todos da mesma categoria e classe. Quem te dera, hein? Pois é, tive esse privilégio. Se você digitar qualquer desses títulos no Google hoje, vai aparecer filme, por isso ninguém mais lê e usa a imaginação.
A outra maravilha que ganhei de meu pai... e aí vem o indiscutível, até certo ponto ao falar de Mozart... foi uma coleção de 12 discos em carbono (são anteriores ao vinil, viu?) da Seleções do Reader’s Digest, que ele recebeu de brinde por ter assinado a “revista”. Aliás, ele não sabia, mas só assinou a revista porque avaliou que o brinde, vamos e venhamos, era muito mais valioso que a publicação. E era, eu que o diga.
Chamava-se Festival da Música Clássica Ligeira e existe até hoje. Se Googlar tem gente leiloando como relíquia. Ali ouvia-se Tchaikovsky, Brahms, Schubert, Beethoven, Ravel, Vivaldi, Berlioz, Elgar, Chopin, Händel, Stravinski, Haydn, Debussy, Liszt, Mahler... e Wagner, Bach, Mozart... deixei os melhores por último.
Essa coleção de discos vinha acompanhada de um livro maravilhoso que trazia a imagem e biografia de cada autor, além da explicação e história de cada peça musical. Vocês não vão acreditar, mas naquele tempo as pessoas tiravam xerox das fichas técnicas dos discos e conseguiam dobrar até ficar do tamanho de uma fita cassete para dar de presente a outra pessoa. Uma fita cassete era uma... deixa pra lá, vai pesquisar.
Logo que ganhei a tal coleção, a primeira coisa que fiz foi folhear o livro que a acompanhava. Ali soube que Mozart nascera num 27 de janeiro e, ao sabê-lo, pensei: esse cara nasceu no mesmo dia que eu (olha a presunção infanto-juvenil, EU é que nasci no mesmo dia que ele!), esse cara nasceu em 27 de janeiro, vou adorar a música desse cara! Decepção. De toda a coleção de discos que ouvi, só não gostei dele: Mozart.
Passei os anos posteriores ouvindo toda a coleção e, eventualmente, colocava Mozart para reavaliar. Mas não tinha jeito, não conseguia apreciar. Anos passaram-se, troquei com um seminarista chamado Francisco meu jogo de xadrez por duas aulas semanais de violão. Lucrei: Aprendi violão, teoria musical e xadrez, pois o Chico não tinha com quem jogar e me obrigava a ficar até tarde da noite, depois da aula de música, jogando com ele.
Mais alguns anos... ou muitos... e certo dia ouvi Lacrimosa, do conhecido Réquiem, de Mozart. Fascinei-me com a subida daqueles 15 tons das vozes (mais que duas escalas! Surpreendente!) até desabrochar num coro grosso e harmonioso, de repente voltando à terra. Uma digna ascenção d’alma e a recolocação no mundano de um reles ser, submetido a uma força maior e mais alta. A subida ao céu e a evidência do terreno, tentando se redimir. Lindo.
Amém. Assim seja. Assim termina.
Bem, depois disso, amadurecido, descobri que Mozart é o maior e melhor compositor de todos os tempos e, para sabê-lo, havemos que ter muita sensibilidade e conhecimento. Eu não tinha. Aí, me maravilho até hoje com A Rainha da Noite, Dies Irae, Confutatis, Figaro, Eine kleine Nachtmusik, etc.
Sugiro outra vez: se quiser ouvir agora, Lacrimosa, o Réquiem e tudo mais de Mozart, aqui está: https://www.ouvirmusica.com.br/mozart/1427639/

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Que terror



Telefonema interceptado entre dois dos temidos terroristas brasileiros:
— Alô?
— Oi, sou eu. Alguma novidade do atentado?
— Vem me visitar amanhã, o garoto é uma peste.
— Que garoto?
— Meu sobrinho, o atentado.
— To falando da explosão!
— Ah, é mesmo. Alguma novidade?
— Foi o que eu perguntei.
— Ah, tá... quando vai ser?
— A gente tá pensando no domingo, mas meu time tem jogo do brasileirão. Só se for depois das seis.
— Ih, o jogo de domingo é às seis e meia, cara. Se explodir vai ter que ser depois de nove da noite.
— Tá, então fica pra segunda-feira.
— E quem vai ser?
— O homem-bomba? Eu não posso porque na segunda-feira trabalho.
— Pois é, cara, eu também queria pedir pra me deixar fora dessa que eu vou ter um compromisso logo depois da explosão, sabe...
— Ninguém tá fora, ninguém tá fora...
— Ué, e você?
— É que eu to coordenando tudo, entende?
— E como vão escolher a vítima... digo... o felizardo?
— Acho que vai ser o mesmo método dos caras lá do Oriente.
— Mérito e fidelidade?
— Não, no palitinho. Mas, e o material, tá pronto?
— Quase. O Marcelo... ups, desculpe... Qual é o codinome secreto do Marcelo mesmo?
— Deixa eu ver aqui... putz, caiu minha internet... mas eu tenho anotado... peraí. É o Marcelo Frei ou o Marcelo Caju?
— Ih, sei não. Aquele moreninho, cabelo crespo, de óculos... Acho que é o Caju.
— Tá, se for o Caju, o codinome secreto dele é Bilu-Bilu.
Bilu-Bilu!?
— E o irmão dele é o Tetéia.
— Tá. É aquele de João Pessoa, né?
— Não sei, já te digo. Ô mãe, o Bilu-Bilu é de onde? Olha, minha mãe disse que é de Salvador.
— Tá, pois é, ele ficou de conseguir um material aí.
— O que tá faltando?
— Cinto.
— Sente o quê?
— Cinto... tá faltando o cinto.
— Pra que cinto?
— Um cinto de explosivos, pô! Um homem-bomba que se preza sempre tem um cinto de explosivos.
— Precisa, não! Bota numa pochete!
— Ixe! Coisa cafona!
— Compra uma de marca, Pierre Cardin, Calvin Klein... qualquer camelô vende, aí fica fashion.
— Por falar em comprar, onde é que eu posso comprar uma barba falsa?
— É só deixar a barba crescer.
— Não é pra mim, é pra Ludmila... digo... pra Catófla. Sabe como é, terrorista tem que ter barba.
— Loja de fantasia deve ter, várias... ih, peraí que tão batendo na porta. Cara, você não vai acreditar: a polícia federal tá aqui!
— Cara, que tudo! Tão caçando terrorista!
— Sou eu! Sou eu, policial! Podem me prender! Cara, to indo pra outro patamar! Terrorista perseguido, já pensou que status?
— Faz exigência, faz exigência!
— Bem lembrado. Aí, polícia, quero bala-de-goma!
— É isso aí, não dá mole!
— Eles tão tirando meu telefone... liga pros irmãos do Oriente, vai me dar moral... chama a imprensa... ô,mãe, fala que eu era um cara calado e misterioso...eu quero fazer um comunicado... não desliga, não desliga, seu guarda...
Tu-tu-tu-tu-tu-tu.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Transparências


quarta-feira, 6 de abril de 2016

segunda-feira, 14 de março de 2016

Acabou a moleza

Pela primeira vez no Brasil se viu, na semana anterior às manifestações, a velocidade com que agem as redes sociais e a internet. Até alguns três ou quatro anos atrás, levava-se semanas ou meses para se mudar um conceito depois que ele já estivesse incrustado na mentalidade das pessoas. Isso, em geral, só se conseguia com jornais, televisões, rádios e boca-à-boca, todos trabalhando a franca potência e constantemente. Só então, depois de semanas ou até meses de campanha, começaríamos a perceber uma pequena mudança no que estariam pensando as pessoas nas ruas.
Até quatro ou cinco dias antes do domingo (13/03), os argumentos entre Coxinhas X Petralhas eram em defesa de seus representantes políticos e ataques aos representantes do outro lado. Acusações de lado a lado, muitas falsas outras nem tanto, ofensas pessoais aos políticos de lá e da cá, revelações de processos contra fulanos e contra beltranos, poucos poupados. Não importava quem ou o que estava com a razão, qual ou o que era o motivo da rinha e, mesmo, qual ou o que era o discurso de cada lado. Afinal, contra e a favor o que se manifestavam nas redes sociais e na internet?
Na verdade, naquele momento, ninguém sabia direito. O que importava era o ataque. Então começaram a aparecer nos noticiários acusações, delações, citações, indiciamentos e processos em que políticos não governistas estão envolvidos. Os discursos ficaram vazios porque não se sabia exatamente o que queria quem. Um queria Impeachment por causa da corrupção, o outro não. Ora, o que pedia a manifestação? Impeachment! Por quê? Corrupção! Mas, tinham percebido que também há corruptos fora do governo. E agora? Os dois lados ficaram meio perdidos.
Consciente de que haviam perdido seus ídolos políticos, que eles não seriam um bom apelo, e percebendo que seu discurso tinha ficado sem sentido, o movimento vem pra rua, apenas dois ou três dias antes, mudou para “somos contra qualquer corrupção, seja de quem for”. Usando a internet e sobretudo as redes sociais, em questão de horas conseguiram incutir em seus seguidores o novo discurso. E de um momento a outro, saíram às ruas com o novo conceito da manifestação.
A rapidez foi tanta que ficou até engraçado quando dois desses ídolos, Alkmin e Aécio, foram à manifestação imaginando que seriam levados nos braços da glória e, ao invés disso, os expulsaram aos gritos de corruptos e oportunistas. Até eles foram surpreendidos pela mudança vertiginosa de conceito! Imagino um dizendo ao outro: Pô, mas nem me avisaram!
Assim se entende a constante luta das mídias estabelecidas, sobretudo Globo, contra as mídias sociais. Diariamente, em seus jornais e programas, a Globo insiste que ficar muito tempo nas redes sociais faz mal para a saúde. Faz mal para a saúde dela! De uns tempos para cá ela vem tentando também colar seus aplicativos nos usuários de mídias sociais, o que seria um meio de manter suas ideias ativas. Mas não está conseguindo.
Lí dia desses, véspera da manifestação, um texto do Fernando Morais em que ele expressava bem essa atuação participativa dos meios eletrônicos na nossa vida. Dizia ele: (...)mas as coisas mudaram: imprensa de papel está com os dias contados; assim como a TV, como nós conhecemos, também vai acabar. Agora eles mentem à noite na televisão e nós desmentimos de dia, na internet. Acabou a moleza.