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quarta-feira, 12 de maio de 2010

ONOFRE, o novato no campo

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Um Livro Cansativo

(Óscar Fuchs)

Finalmente acabei a leitura de um dos livros mais cansativos que tive nas mãos. Há alguns anos o historiador J. M. Roberts se pôs obstinadamente a escrever a história do mundo. Toda a história do mundo! E conseguiu. Mas quando, depois do hercúleo trabalho, levou os originais a seu editor soube que aquele calhamaço não poderia ser editado em um único volume, mas no mínimo em oito, o que seria impossível por razões comerciais. Assim, o editor pediu que a obra, toda aquela pesquisa e dedicação, fosse reduzida a apenas um volume. Não conheço Roberts pessoalmente, mas parece ser uma pessoa bem humorada pelo título que escolheu para o livro compactado: The shorter history of the world ou, em bom português, A mais curta história do mundo. Certamente uma ironia para alfinetar o editor, que ferira seu orgulho “por razões comerciais”.

No Brasil The shorter history of the world foi publicado com o título de O Livro de Ouro da História do Mundo – da pré-História à Idade Contemporânea (Editora Ediouro). É magnificamente escrito e de deliciosa leitura. Ainda assim é cansativo, não para ler, mas para segurar. Apesar de todo o esforço de Roberts, o livro tem quase mil páginas em tamanho grande, o que o torna um bloco de granito. Lê-lo deitado acarreta um afundamento do plexo. Sustentando nas mãos, uma tendinite ou bursite. Enfim, segurá-lo é um trabalho braçal cansativo que esgota fisicamente. A solução é colocá-lo sobre uma cadeira, estante ou mesa e deliciá-lo sentado, como se faz numa refeição.

Em A mais curta história do mundo — desculpem, mas prefiro o título original traduzido por ser irônico —, Roberts narra desde que a História ainda não era História, até os dias de hoje. “A História é a narrativa dos seres humanos, e o que nos interessa é o passado humano”, diz ele. Portanto, teoricamente, a História deveria começar pelo primeiro ser humano, mas quando surgiu o primeiro humano? Daí vem o termo pré-História, significando “anterior à história”, pois o ser humano ainda não existia. E Roberts optou por contar tudo, desde o início, já que é difícil saber quando ou onde surgimos, apesar das pesquisas e suposições.

Porém, o que mais impressiona, além da qualidade e do peso do livro, é a demonstração de como nós, seres humanos, somos efêmeros, passageiros e instantâneos. “Os primeiros símios e macacos — então os primatas mais desenvolvidos — apareceram há cerca de 25 milhões de anos”, diz o autor. E quando chegamos ao final do livro temos a sensação, ou melhor, a percepção de que aquilo que aconteceu há 100 ou 200 anos, foi agora!

Essa sensação fica clara quando abrimos um dos últimos capítulos, intitulado Época Atual: A Longa Trajetória. Passamos pelos impérios egípcio e fenício, passamos pelo babilônico, persa, macedônico, romano, cartaginês, turco otomano, mongol, chinês, o Sacro Império Romano — que durou cerca de mil anos! —, até chegarmos ao germânico e ao atual americano, só para citar alguns. Todos os impérios levaram centenas de anos para serem consolidados e duraram outras centenas de anos, com exceção do império americano. Nessa comparação nos damos conta de que esse império americano surgiu no curso de apenas algumas décadas e que só existe há cerca de 60 anos. Ou seja, ao contrário do que acontecia na história anterior, na história da nossa geração um império se forma, se consolida e talvez venha a sucumbir no espaço de apenas uma vida!

Hoje a história está mais rápida, tudo é vertiginoso e de uma hora para outra tudo muda. Em nosso dia-a-dia as coisas surgem como novidades e desaparecem logo depois, e isso se reflete na política, na economia e em todas as outras relações, seja entre pessoas, corporações ou entre blocos de nações e potências. Ao terminar a leitura de nossa história, chegamos à conclusão de que provavelmente, se continuarmos nesse ritmo, também não vamos durar muito. A única reparação em A mais curta história do mundo talvez seja o título do capítulo 13. Em vez de Época atual, o historiador J. M. Roberts poderia tê-lo intitulado “A que ponto chegamos!”