CHEGOU!!! CRÔNICAS & RABISCOS, em março, grande lançamento! Crônicas de humor, edição ilustrada

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Psiu Kólogo, o barman

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Cinco Estrelas

(Óscar Fuchs)

Na recepção do hotel:
— Boa tarde.
— Boa tarde, senhor. Posso ajudá-lo?
— Tem quarto?
— Tenho um no subúrbio, mas quero alugar um aqui no centro. O senhor sabe de algum desocupado?
— Eu quero saber se tem quarto no hotel.
— Ah, no hotel? Cento e vinte e um.
— É o número?
— Não, a quantidade.
— Quantidade de que?
— De quartos.
— E desses cento e vinte e um, tem algum desocupado?
— Dezesseis.
— É a quantidade?
— Não, é o número.
— Seria possível ver o quarto?
— Claro. Só um minuto, já volto.
Dez minutos depois:
— Pô, que demora!
— Desculpe, senhor.
— Foi tão difícil assim encontrar a chave?
— O senhor não pediu para dar uma olhadinha no quarto? Eu fui.
— Devo estar falando grego...
— Interessante, na Grécia vocês falam português e chamam de grego!
— E como é este quarto?
— Quatro paredes, chão, teto...
— Quero saber o que tem nele!
— Bem, a direção do hotel achou por bem colocar uma cama. Também achei uma atitude correta, pois quem procura um hotel quer descansar e....
— Por favor, o que mais além da cama?
— Banheiro.
— E além do banheiro?
— Aquelas coisas de sempre: criado mudo, poltrona, dois roupeiros...
— Dois roupeiros?
— Sim. Um no quarto e outro no banheiro.
— Para que roupeiro no banheiro?
— Sabe como é, essas inovações gregas ainda não chegaram por aqui.
— Eu não sou grego!
— Oh, queira desculpar. É melhor não saberem que o senhor é turista, com todos esses assaltos.
— Não sou turista! Por favor, responda apenas “sim” ou “não”.
— Sim.
— Tem ar condicionado?
— Sim.
— Telefone?
— 5221-2138, é o número do hotel. Já o meu é...
— Só quero saber se tem telefone no quarto!
— Ah, sim. E com uma campanhinha que faz trim-trim. Na Grécia os telefones também fazem trim-trim?
— Pelo amor de Deus! Esqueça Grécia, esqueça turista!!!
— O senhor parece bem irritado. Deve ser o cansaço da viagem. Realmente, uma viagem da Grécia até aqui deve levar horas.
— Agora você acertou. Estou irritado e cansado!
— Estou percebendo. Minha sugestão é que procure um hotel e descanse um pouco. O senhor se sentiria melhor.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Psiu Kólogo, o barman

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Êxodo e Refluxo

(Óscar Fuchs)

Num restaurante de beira-de-estrada dois homens de meia-idade conversam sentados ao balcão com seus cafezinhos pós-almoço. Depois de tantos hífens, um pede ao outro:


— Pode me alcançar o adoçante?

— Só se você me alcançar o açúcar. — Diz o outro com um sorriso amistoso

— Pois não. — Alcançando o açúcar. — Abandonei o açúcar.

— E eu abandonei o adoçante. — Diz o outro alcançando o adoçante.

Os dois provaram do café e o do açúcar comenta:

— Daqui pra diante vai ser só açúcar, carne gorda, ovo, tudo que sempre tive que evitar.

— É mesmo? Por quê?

— Trabalhei trinta anos e quase morri de stress. Era caspa, gastrite, refluxo e, por último, um ataque cardíaco. Meu médico sempre dizia que eu deveria abandonar tudo: o trânsito da cidade, a pressão da empresa, tudo. Agora, finalmente, vendi o pouco que tinha e comprei uma fazendola no interior. Só ficou esse carro aí na frente.

— E você vai viver de quê?

— Sei lá! Plantar, criar uns bichos, enfim, viver! — Diz entusiasmado, erguendo as mãos para o céu.

— Pois eu, meu amigo, também estou indo para uma nova vida. — Diz o do adoçante.

— Ah, sim?

— Estou começando a me adaptar. Agora vou querer um emprego que me pague o suficiente todo final de mês, que eu não tenha que me preocupar com salários de empregados, com impostos, se a produção vai ser boa ou não, etc. Ah, e adoçante, dieta equilibrada e tranquilidade! – Concluiu numa risada.

Depois de limpar as lágrimas de tanto rir, o do açúcar pergunta:

— Mas, o que você fazia?

— Eu tinha uma fazendola no interior.

Os dois ficam pensativos mexendo as colherinhas nas xícaras. Até que o do açúcar pergunta:

— Você vai na sobremesa?

— Só se for diet.