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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Não vê as notícias, não!?

(Óscar Fuchs)

Trabalhei como Relações Públicas em uma casa noturna há muitos anos. Minha rotina era sair do trabalho lá pelas cinco da manhã, chegar em casa, pegar o jornal quentinho que recém tinha sido entregue e ler até que viesse o sono.

Certa vez, por cerca de duas semanas, não recebi o jornal. Atrapalhou toda a minha rotina, pois chegava em casa e não tinha nada para descontrair de uma noite de trabalho.

Numa madrugada dessas, chegando em casa, encontrei o entregador saindo pelo portão do prédio logo após entregar o jornal. Não pude deixar de exultar:

— Ah, finalmente voltaram a entregar o meu jornal!

— É — disse ele —, a gente não estava entregando.

— Isso eu sei! O que aconteceu?

— A gente estava em greve. O senhor não vê as notícias, não?

Não me contive:

— Como é que poderia ver as notícias se você não me entrega o jornal!?

Disso, me ocorreu:

O sujeito vem pela estrada e para em um posto de combustíveis para abastecer o carro:

— Cinqüenta reais de álcool, por favor. — Pede.

— Não dá. — Diz o frentista.

— Como é? — Pergunta o motorista.

— Não posso vender álcool para o senhor.

O motorista sorri amarelo.

— Como assim, não pode? Isso é uma pegadinha, né?

— Não, senhor.

— É uma pegadinha, sim. Cadê a câmera? Cadê?

— Câmera é na borracharia, senhor.

— Eu to falando de câmera de filmar. Aposto que tem uma câmera filmando a gente. — Desconfia, olhando para os lados

— Tem, não.

— Mas, então... por que você não pode abastecer meu carro?

— Abastecer, eu posso. Só não pode ser com álcool.

— E por que não?

— Quem garante que o senhor não vai beber?

— Ta maluco? Eu nem bebo!

— Isso é o que o senhor está dizendo.

— Você acha que vou beber álcool combustível?

— Já vi gente bebendo cada coisa que o senhor não imagina. O vício é uma desgraça.

— Agora ta me chamando de bêbado!

— Como é que vou saber? Eu não ponho a mão no fogo por ninguém.

— Isso não tem lógica.

— O que não tem lógica é o senhor beber um tanque cheio de álcool e sair por aí, embriagado, provocando acidentes e matando gente inocente.

— Você é maluco?

— Posso ser maluco, mas não sou bêbado.

— Eu não bebo! Vamos resolver isso: você coloca um pouquinho, só pra eu chegar a outro posto, ta bem?

— Só uma garrafinha?

— Só uma garrafinha.

— Vamos fazer diferente: eu sirvo um copinho pro senhor, só uma dose, e o senhor promete que larga a bebida.

— Eu já disse que não bebo!

— Todos os bêbados dizem que não são bêbados.

— Escute aqui, ou você abastece meu carro ou denuncio você e esse posto agora mesmo!

— Pode denunciar. To só respeitando a lei.

— Lei? Mas que lei?

— Puxa, o senhor é muito desinformado, hein?

— Mas eu não to sabendo de nada, que lei é essa?

— Não sabe que proibiram a venda de álcool nas estradas?