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domingo, 17 de abril de 2011

ABL



A lista - Parte III - Finalmente, o fim.

(Óscar Fuchs)

Escândalo da violação do painel eletrônico - A prova material


Na falta de uma cópia da lista surrupiada do painel, a fita degravada pelo perito Ricardo Molina contém uma confissão de ACM (Isto É, 25/04/2001)


Como eu estava contando é uma frase muito usada pelos detetives. Mas não sou um detetive comum, como os outros. Como no sentido de que os engulo, de que sou muito superior a eles. Sou original em tudo e, como eu estava contando, nós detetives temos essa vicissitude de relatar nossas aventuras em pedaços. Como eu estava contando, recebi essa maldita lista e tratei de descobrir do que se tratava antes que me maltratassem. Fui ao escritório dos gêmeos Domingos e Feriados, que não poderiam me revelar nada por enquanto. Com a lista veio um bilhete que dava instruções e.... não vou repetir tudo, leia as postagens anteriores, pô!
Já era hora de saber algo mais sobre essa lista e optei por seguir as instruções do bilhete que veio com a lista. Fui ao hotel Royal e sentei-me, ansioso, na recepção. Meu nervosismo era grande, mas como todo detetive experiente, tinha que passar despercebido. Acendi um cigarro, depois outro e tentei aparentar calma e descontração enquanto fumava os dois cigarros. As horas passavam e nada acontecia. Até 13 horas eu roia as unhas, mas elas acabaram e passei a roer a falangeta do dedo médio.
Engoli o coração que estava saindo pela boca e, descontraidamente, tentei ler o jornal de cabeça para baixo. Não consegui, então inverti a posição. Tranqüilo e equilibrado, fumando meus dois cigarros, roendo meu dedo e lendo o jornal plantando bananeira, vi um homem se aproximar. Seria ele? Não, era apenas um funcionário do hotel pedindo que me comportasse. Ri para ele e exigi que parasse de caminhar no teto para conversarmos como homens equilibrados. Percebi que, por alguma razão, estava chamando muita atenção. Talvez por não estar andando no teto, como aquele bando de malucos. Desfiz a bananeira e fui até o bar.
— Me dá um gim com gelo. — Pedi ao barman.
Ele me serviu e começamos a entabular conversa. Seu nome era João. Com a conversa já toda no tabuleiro, pedi outro drink:
— Gim, me dá outro João com gelo.
Olhou-me intrigado e, imediatamente, percebi meu erro.
— Desculpe. Gelo, me dá outro João com gim. Não! Gim, me dá outro gelo com João. Também não. Peraí... ah, você entendeu.
O barman trouxe o gim com João, sorrindo.
— Obrigado. — Agradeci a meu amigo gelo.
Foi então que ouvi alguém ao meu lado dizer carambola. Saí do bar e me encaminhei para a poltrona, ao lado da mesa de canto. No caminho, com o canto dos olhos, vi que Hassam Guefrio era um homem enorme. Minha vontade foi de agarrá-lo com uma gravata surpreendente, dar-lhe um passa-pé indefensável, acertar-lhe um golpe de caratê na nuca e imobilizá-lo com uma chave infalível, pressionando seu rosto contra o chão enquanto ele gritasse “Está bem! Está bem! Eu confesso!”. Mas minha calma foi bem maior que minha impulsividade e ele era bem maior que eu. Sentei-me tranqüilamente na poltrona. Hassam veio em minha direção.
— E agora? O que faço? — Perguntei para meus botões.
Meus botões não responderam. É sempre assim, quando mais precisamos dos amigos, eles somem. O Matador aproximou-se e parou à minha frente. Impressionante o tamanho dele. Boquiaberto, exclamei:
— Caramba!
Hassam Guefrio, O Matador, balançou a cabeça negativamente, visivelmente irritado, e enfiou a mão direita por dentro do casaco. De posse de meu total controle emocional e físico, encolhi-me em posição fetal na poltrona e pensei “Pronto! Morri! Já era! Anos de contribuição ao INSS jogados fora!”. Ante a iminência da tragédia, usei meu último recurso:
— Bola. Caramba. Bolacaramba. Carambola! Carambola! Carambola! — Gritei aos prantos, de joelhos, implorando por clemência.
Hassam Guefrio tirou um envelope do bolso, levantou o abajur ao qual eu estava agarrado, na mesinha de canto, e depositou ali o envelope. Em seguida deu meia volta e desapareceu pelo saguão. Trêmulo, levantei o abajur, peguei o envelope e o abri. Outra mensagem:
“Otimov;
Vamos detonar uma bomba contra ACM. Quando precisar provar alguma coisa, use a lista. Mande relatório para Smov.
O Chefe”
Mais uma vez esse codinome repugnante, principalmente se lido de trás para diante. Detonar uma bomba contra ACM? Quem teria alguma coisa contra a Associação Cristã de Moços!? Quem faria uma maldade dessas? Por que alguém odiaria a ACM? Qual o número que somado indefinidas vezes, terá como resultado um segundo número cuja soma sucessiva de algarismos, terá como resultado o próprio número? Fui até o escritório de Domingos e Feriados com todas essas perguntas. Cheguei lá cansado com tantas perguntas penduradas nos braços, como se tivesse ido ao shopping e saído cheio de compras. Recuperei a lista. Em casa, tomei as últimas providências. A lista está lá no armário, com os biscoitos, um lugar fresco e seco. Como me orientaram — “Quando precisar provar alguma coisa...” —, toda vez que preciso provar algum prato diferente, uso a lista. Já comi vários pedacinhos dela, mas ainda não percebi diferença alguma. Fiz um relatório detalhado do que aconteceu, enfiei num envelope e escrevi o destinatário: Secretaria Municipal de Obras e Viação, Smov. Felizmente, até hoje, a ACM continua intacta. Talvez tenham cancelado os planos.
THE END