(Óscar Fuchs)
—Gavião, estamos aqui com o astro do
jogo, Pitico! E aí, Pitico, três gols na mesma partida, pode pedir música!
— Ah, é? Posso pedir uma música?
— Pode, o que você quer ouvir
enquanto assiste a seus três gols na partida de hoje?
— Mmmmmm... deixa eu pensar...
— Pensa com calma, não é todo dia que
se faz três gols na mesma partida, não é Gavião?
— Já sei!
— Pitico já sabe qual a música que vai
querer para ilustrar seus três gols no jogo de hoje! Fala aí, Pitico: qual
música você escolhe?
— 3° movimento, allegro, Concerto de Brandenburgo, de Johann Sebastian Bach!
— Hein!?
— Bach... Johann Sebastian Bach.
— Bach... aquele roqueiro? Ele escolheu Rock, Gavião!
— Roqueiro? Não, não... é clássico.
— Clássico? Clássico do Rock, Gavião!
— É música clássica.
— Pitico... ô, Pitico... sem brincadeira! Pede aí uma coisa
mais simples, que todo mundo goste e conhece...
— Tá. Que tal o Canon em
Ré maior?
— “Canhão...”, isso também só pode ser rock! Ele é um
rockeiro, Gavião!
— Não, é um cânone e foi composto por Johann Pachelbel. Começa em ré maior e faz sempre a mesma sequência... drammm...drammmm...drammm...
— É clássico! Bateria fazendo drrrrammmm,
drrrammmm, drrrammm, Gavião!
— Não é a bateria, é a harmonia: ré, ré com dó sustenido, si menor...
— Menor, Gavião... ele é
modesto!
— Todo mundo conhece... super popular... sempre tocam em casamentos... é
um clássico!
— É clássico, gente! Clássico como foi o de hoje, quando Pitico fez três
gols pra esse povo! E esse povo quer ouvir a música dos três gols, uma música
do povo, conhecida... pede aí, Pitico!
— O Canon também não pode?
— Nada de canhão aqui, pede algo que todos cantem junto!
— Tá, peraí... é difícil, hein?
— É, Pitico, não é fácil... mais fácil é fazer três gols na mesma
partida! Escolhe aí a sua música.
— Ahnnnnn... Telemann... concerto em dó menor para oboé, cordas e baixo
contínuo.
— Tele-Man, isso é música
eletrônica, Gavião!
— Não é Tele-Man, é Telemann!
— Não é música eletrônica, Gavião! É música de internet... essa
juventude, hein Gavião?
— Tá bem, vamos simplificar.
— Êba...vam’lá, pode pedir, Pitico! Ele vai pedir a música, Gavião!
— Mstislav Rostropovich.
— Quê?
— Suite número 1 para Cello em sol maior...
— Cello... Cello... seria aquela música do Padre Marcelo?
— Não, não, é de Bach...
— Pô, de novo esse “Bah!”, você é gaúcho? Pensa no Neymar:
“Eu quero Tchun, Eu quero Tchan...”
— Ah, boa! A quinta de Beethoven, tchan-tchan-tchan-tchan... Essa é popular, todo mundo conhece.
— Não dá Pitico, outra.
— Tá bem, então que tal Wolfang Amadeus Mozart?
— Finalmente! Uma música evangélica, um gospel como pedem
todos os jogadores!
— Não, não é evangélico.
— Mas, você disse “Ama Deus”...
— É o nome dele... aliás, o nome dele nem era Amadeus...
— Tá bem, tá bem, qual a música dele que você quer então?
— Flauta Mágica, pode ser? A ária... pode ser?
— Que beleza! Esse cara tem bom gosto! A área é o terreno
dele, é onde ele atua, Gavião! Pequena área, grande área... ele sabe tudo
daquele território, Gavião!
— Não, não é área, é Ária. A ária é A rainha
da noite, da ópera A Flauta Mágica.
— Ih, Gavião... A rainha
da noite só pode ser a mulher do Pitico,
né Pitico?
— Na verdade não, é...
— Pede outra, qualquer uma, aquela que você quiser... não é
mesmo, Gavião?
— Outra... Don Giovanni, pode?
— Claro que pode! Gavião, toca aí, pra acompanhar os três
gols do Pitico, Gian e Giovani... pode ser qualquer uma.