quinta-feira, 22 de julho de 2010
Alergia! Alergia!
(Óscar Fuchs)
"Caminhando contra o vento/ Sem lenço, sem documento/ No sol de quase dezembro..." Quatro e trinta e oito da manhã e não consigo dormir pensando numa crônica que desejo escrever sobre alergias. Li sobre alergias há algum tempo e soube que as há de todos os tipos e de infinitas origens. Algumas terríveis, algumas suaves, outras curiosas, não fosse a tragicomicidade.
Só com a palavra “tragicomicidade” escrevi um quinto da crônica. Escrita duas vezes, já estou quase a um terço. Voltando às alergias, tenho alergia a sol. Por isso o parágrafo inicial de Alegria! Alegria!, do Caetano. Isso mesmo, tenho alergia a sol. Minha opção é sempre pelo campo à praia. Quando e se vou à praia fico sob o guarda-sol, de camiseta de algodão, com um chapelão de palha de fazer inveja a mexicano, todo untado de protetor solar fator “infinito” e, ainda assim, ao chegar em casa e depois de uma chuveirada aparecem as centenas de bolinhas aquosas. Na consulta a uma dermatologista soube da causa de meu mal, o sol. E a doutora comentou, estendendo o lábio inferior e franzindo a testa:
- Você tem muita sorte.
- Sorte? – Perguntei imaginando que ela estivesse brincando.
- É – confirmou -, muita sorte.
Protestei:
- Como posso ter sorte de ser alérgico ao sol? De não poder tirar a camisa nem num bate-bola de fim-de-semana?
Depois de tantos hífens acumulados em apenas duas expressões, ela explicou:
- A maioria das pessoas não percebe que o sol em excesso faz mal, ficam se fritando à beira da praia e só vão descobrir uma doença grave quando já é tarde. Com você isso não acontece porque, qualquer pequena agressão, sua pele já reage.
Indo por esse caminho, pensei o quanto seria bom se todos os médicos nos falassem desse jeito. Meu gastro:
- Você tem muita sorte de ter uma úlcera nervosa, assim você sabe que não deve se estressar.
Meu oftalmo:
- Você tem muita sorte de sofrer enxaquecas terríveis, assim você sabe que está na hora de trocar as lentes dos óculos.
Meu otorrino:
- Você tem muita sorte de ter adenóide. Apesar de dificultar sua respiração, também o livra de inalar milhões de germes, bactérias e vírus que estão no ar.
Sempre boas notícias! Mas a alergia mais curiosa que conheci foi a de uma caixa de banco. Cheguei ao guichê e estava ela trabalhando com luvas de látex. Aliás, minha mulher tem alergia a luvas de látex. Pois bem, não me contive e perguntei por que ela usava aquelas luvas.
- Alergia a dinheiro. - Respondeu.
- Alergia a dinheiro? – Perguntei impressionado. – E você trabalha como caixa de banco, com dinheiro!
- Pois é – disse ela com um sorrisinho conformado -, pra ver como é a vida.
Não consigo perder piada, então soltei:
- Alergia a dinheiro... Você é a mulher perfeita, quero casar com você!
A moça mostrou ser mais engraçada que eu:
- Então saiba que não sou alérgica a cartão de crédito.
Perdi dessa vez, mas me diverti muito.
Cinco e quarenta da madrugada. Já sei que quando o despertador tocar vou acordar com aquela alergia de sair da cama. Boa noite.
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