Búzios. Estávamos
assistindo ao noticiário da TV no quarto da pousada quando deram a previsão do
tempo para várias cidades do Brasil. Ao terminar, a amada companheira reclamou:
—
Não deram a previsão para Búzios!
Retruquei:
—
Búzios não é no Brasil, meu amor, — e completei — talvez nem no continente
americano.
Adoro
o humor que reside nas megalomanias. E a impressão de Búzios é essa mesma: tão
megalomaníaca que chega a ser engraçada, meio ridícula na sua ostentação, na
sua fleuma tupiniquim, na sua arrogância presunçosa. Tudo o que é assim,
megalomaníaco, provoca humor e risos.
Logo
de chegada, ao irmos a um restaurante, o garçom nos atendeu com um buenos dias. Disse a ele que não falasse
espanhol e ele tascou:
—
Sorry, sir.
Expliquei
ao garçom que sou brasileiro e que poderíamos falar português. Senti-me como
aqueles milhares de migrantes que estão invadindo a Europa: “lá vêm esses
clandestinos fugidos encher o saco”, pois o garçom fechou a cara e ficou
emburrado durante toda a refeição. Não sei se foi porque me considerava um
invasor de seu "país", se foi porque não poderia exercitar sua bilinguidade ou se foi porque sabia que
brasileiro gasta pouco. Se foi por causa da última conjectura, ele estava
certo: escolhemos pratos baratos.
Costumo
dizer que Búzios é a mais badalada praia do território argentino. Mas estou
errado. Dos argentinos, Búzios apreendeu a megalomania e o egocentrismo, pois
na verdade é a mais badalada praia do território buziano. Búzios é uma
península isolada psicologicamente do mundo. Se não fossem dez toneladas de
terra naquele istmo que liga Búzios ao continente, seria uma ilha. E adoraria
ser uma ilha, pois está convencida de que é muito mais importante que o resto
do mundo.
Argentinos
às pencas. Agora imagina: você vai para um lugar à beira-mar, que foi uma
colônia de pescadores e onde abundam ostras, lagostas, caranguejos, lulas,
peixes miles para se fartar de frutos
do mar, mas o prato principal em todos
os restaurantes é... picanha. Picanha e pizza são os pratos típicos da
gastronomia independente de Búzios. Os frutos do mar deixaram a desejar até pro
peixinho frito de qualquer boteco aqui do nosso país. Claro, nosso país significa “fora de Búzios”.
As
suspeitas da independência total de Búzios em relação ao resto do planeta se
confirmaram. Caminhando pela orla, encontrei uma placa que retrata em desenho
como Búzios se separou — vejam só — do Paleocontinente
Gondwana! Ali explica que a terra tinha um continente, o Gondwana, que foi dividido em várias partes
continentais: África, Índia, Antártica, Austrália, América de Sul e... Búzios.
Isso mesmo. Além desses, não aparece nenhum outro nome de cidade, de estado, de
país ou de continente, só “Búzios”.
Como Búzios
se separou do Paleocontinente Gondwana!
Búzios
não está nem aí para o resto da Terra, quiçá do Universo! Búzios, se falasse —
e não duvido disso —, diria:
—
Pois é, infelizmente tenho que dividir esse planeta e meus mares com outros
continentezinhos e territoriozinhos.
Sim,
porque pensa que os mares são seus, como
pensam os ingleses.
Já
tinha formulado todas essas impressões de Búzios depois de chegar aqui em casa.
Então fui vestir uma dessas camisetas baratinhas “I Love Búzios” que se compram para dar de lembrança aos amigos.
Antes de vestir, dei uma olhada na etiqueta na esperança de que dissesse algo de diferente, afinal,
conhecendo Búzios... Pois, pasmem, minhas impressões estavam totalmente
corretas. Na etiqueta estava escrito nada mais, nada menos que: Made in Búzios. Que ego!