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quinta-feira, 16 de junho de 2011

ET wanna to go back to Bahia

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Até os gsepgmolj!

(Óscar Fuchs)

Ta bem, já foi, já falei, agora ta feito: tenho contato com seres de outro planeta, os gsepgmolj. Ou pelo menos foi como eu entendi o nome da civilização deles (ver crônica Os gsepgmolj, no blog). Os gsepgmolj andam na bronca comigo porque revelei que encontro eles no boteco do Vandi.
— Pô, terráqueo, que saco! — reclamaram — Dia desses tivemos que aturar aquele chato do Caçadores de OVNIS e mais o Paulo Coelho juntos durante duas horas!
Compreendi perfeitamente e já me desculpei pelo imensurável desgosto. De qualquer jeito, não foram reconhecidos pela dupla de chatos. Os dois disseram que “não eram extra-terrestres coisa nenhuma, apenas um bando de bebuns delirantes”. Mal sabem. Bebuns delirantes eles também são, mas de outro planeta. A vodka vagabunda do Vandi tem o nome muito parecido com o nome do planeta deles, Vrlizov, então os gsepgmolj bebem garrafas e mais garrafas para esquecer a terra natal, digo, a Vrlizov natal.
Vrlizov ficou inabitável depois que uma onda de idiotice assolou o planeta e tornou-o insuportável. Houve uma invasão de modismos alienígenas que engoliu sua cultura. Dizem que há uma cidade inteira só de Carlinhos Browns, imagina a tortura! Então vieram para cá. Hoje se abancam no boteco do Vandi e bebem aquela vodka intragável enquanto cantam suas canções. Os bebuns terráqueos que também frequentam o boteco ficam melancólicos, inconsoláveis, e se abraçam nos gsepgmolj aos prantos, apesar de não entenderem uma palavra do que cantam. Bebum é sempre solidário.
Ontem eles vieram comentar o tal Código Florestal, sobre o qual ouviram a imprensa falar muito nos últimos dias.
— Ficamos felizes por vocês, terráqueo.Vão aumentar as áreas dos colonos e vão ter mais comida.
— Os pequenos agricultores não querem nada para a agricultura familiar. Eles produzem alimentos sem destruição das tais áreas de preservação. — Informei.
— Ora, mas está em todos os jornais, nas televisões, que...
— Estão enganando a vocês também. Na verdade os grandes ruralistas estão tentando aprovar uma lei para abocanharem mais terras e para não pagarem as multas pelos desmatamentos que já fizeram.
— Mas... todos estão a favor e...
— O povo nem ta sabendo.
— Quer dizer que o meio ambiente vai...?
— Se forem aprovadas as alterações no Código Florestal, há risco de serem lançadas na atmosfera quase 7 bilhões de toneladas de carbono, mais de 13 vezes as emissões do Brasil no ano de 2007.
— Outra garrafa de vodka! — Gritou um deles para o Vandi.
— Terráqueo, vocês não podem aprovar isso!
— Não depende de nós, meu amigo alienígena. Nossos representantes vão ganhar muito com isso, tem uma bancada ruralista que vai faturar alto se isso passar.
Um deles agarrou o casaco de outro com as duas mãos e começou a chorar histérico:
— Eu não quero ir embora de novo... não quero... eu quero ficar aqui... já é quase a minha casa entende?
O outro passava a mão na cabeça dele, consolando-o:
— Schhhh, schhhhh... não vamos.... não vamos....
Mas ele não se conformava:
— Esse clima bom... essa vodka...essas mulheres com peitos... e na frente ainda!
— Eu sei, eu sei....schhhhhh. Calma, calma.
Estava inconsolável. Agarrou as lapelas do meu casaco e implorou:
— Faça alguma coisa! Faça alguma coisa!
Atendi a seu pedido e servi outra vodka em seu copo.
— Terráqueo — disse o outro —, você tem que fazer alguma coisa para evitar isso!
— O que? Nada que eu faça vai... peraí!
Uma idéia me caiu. Juntei a idéia e a aproveitei:
— Posso escrever sobre essa tristeza de vocês! Imagina como isso vai sensibilizar os terráqueos, pois se até extraterrestres estão preocupados!
— Genial! Genial! — Vibraram todos, abraçando-se.
Dei continuidade ao raciocínio:
— E então poderemos...
Mas um desânimo me assaltou. Não levou nada de importante, mas me assaltou:
— Não adianta, ninguém vai acreditar. Como vou dizer que aliens estão preocupados, se ninguém acredita que converso com vocês? Lembram os dois chatos que estiveram aqui?
— É verdade. — Concordaram.
Melancolia geral. Um deles se aproximou tristonho, colocou a mão em meu ombro e queixou-se:
— Olha, se esse negócio sair... vou embora.
Baixei a cabeça, deprimido. Ele olhou para o alto, pensativo, e arrematou:
— Prefiro encarar aquele monte de Carlinhos Browns.



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