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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O que é o William Homer?

(Óscar Fuchs)

Fazia muito tempo que não prestava atenção no Jornal Nacional, da Globo. Até porque não presta. Mas, dia desses, William Homer e sua parceira, Sandra (é isso?), conseguiram chamar minha atenção: são tão “participativos”!  Como eles conseguem disfarçar tanto e, ao mesmo tempo, espalhar aqueles conceitos na maior cara-de-pau? São atores.
Aí, fiquei pensando (coisa que o William Homer e a Globo não gostam: que as pessoas pensem), mas fiquei pensando: e se eu fosse o William Homer, será que eu teria a cara-de-pau de divulgar aquilo tudo em rede nacional? Mesmo que seja um noticiário que não tenha mais audiência, mas que me paga um ótimo salário e me dá um cargo figurativo. Será que eu seria tão volúvel quanto William Homer?
De repente lembrei de Marx — não o Karl, mas o Groucho: "Só há um forma de saber se um homem é honesto... pergunte. Se ele disser sim, então você sabe que ele está mentindo." Ou algo desse gênero, não lembro as palavras exatas.
Pois é. Se a gente perguntar ao William Homer, o que será que ele dirá?
- Sou um jornalista.
Ora, jornalista ele não é, porque jornalista tem uma ética — ou, teria — e jamais aceitaria imposição de seu empregador. A menos que a ética do William Homer tenha ido pro espaço. Ou que a ética dele seja a mesma de seu empregador, que a gente sabe que não tem ética nenhuma.
Na verdade, até admito isso, afinal, quem tem um salário daqueles tem que fazer o que o patrão quer... lembrei de Groucho Marx outra vez: Há tantas coisas na vida mais importantes que o dinheiro... mas, custam tão caro!”

Vai ver que é isso! William Homer tem que sustentar a família que é grande e, nessa hora, não importa se há pessoas morrendo na África ou na Palestina... “os meus primeiro!”
Há outra possibilidade: William Homer está iniciando na carreira e, a gente sabe, todo iniciante faz e escreve bobagens pois está apenas começando e... Lembrei agora de um ensinamento do grande — em todos os sentidos, ele era diretor de redação e tinha dois metros de altura! — Jacinto Barbosa, grande alma...
Eu era iniciante em jornalismo. Jacinto Barbosa mandou-me cobrir uma manifestação. Fiquei cinco horas no local e... não houve manifestação! Depois de uma tarde inteira naquela praça, voltei à redação. Fui direto a ele e relatei:
— Olha, Jacinto, fiquei a tarde toda lá... e não aconteceu nada!
— Nada?
— Nada. — respondi.
Então, com sua grande ética de jornalista, com sua grande generosidade e com sua grande vontade de ensinar aos mais jovens, ele me disse:
— Escreva. O que não acontece também é notícia.
Pois bem, depois disso tudo, de todas essas filosofadas e interrogações, fico perguntando: O que é o William Homer?
E não há mais um Jacinto Barbosa pra me responder com aquela sabedoria e simplicidade. Snif!