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segunda-feira, 14 de março de 2016

Acabou a moleza

Pela primeira vez no Brasil se viu, na semana anterior às manifestações, a velocidade com que agem as redes sociais e a internet. Até alguns três ou quatro anos atrás, levava-se semanas ou meses para se mudar um conceito depois que ele já estivesse incrustado na mentalidade das pessoas. Isso, em geral, só se conseguia com jornais, televisões, rádios e boca-à-boca, todos trabalhando a franca potência e constantemente. Só então, depois de semanas ou até meses de campanha, começaríamos a perceber uma pequena mudança no que estariam pensando as pessoas nas ruas.
Até quatro ou cinco dias antes do domingo (13/03), os argumentos entre Coxinhas X Petralhas eram em defesa de seus representantes políticos e ataques aos representantes do outro lado. Acusações de lado a lado, muitas falsas outras nem tanto, ofensas pessoais aos políticos de lá e da cá, revelações de processos contra fulanos e contra beltranos, poucos poupados. Não importava quem ou o que estava com a razão, qual ou o que era o motivo da rinha e, mesmo, qual ou o que era o discurso de cada lado. Afinal, contra e a favor o que se manifestavam nas redes sociais e na internet?
Na verdade, naquele momento, ninguém sabia direito. O que importava era o ataque. Então começaram a aparecer nos noticiários acusações, delações, citações, indiciamentos e processos em que políticos não governistas estão envolvidos. Os discursos ficaram vazios porque não se sabia exatamente o que queria quem. Um queria Impeachment por causa da corrupção, o outro não. Ora, o que pedia a manifestação? Impeachment! Por quê? Corrupção! Mas, tinham percebido que também há corruptos fora do governo. E agora? Os dois lados ficaram meio perdidos.
Consciente de que haviam perdido seus ídolos políticos, que eles não seriam um bom apelo, e percebendo que seu discurso tinha ficado sem sentido, o movimento vem pra rua, apenas dois ou três dias antes, mudou para “somos contra qualquer corrupção, seja de quem for”. Usando a internet e sobretudo as redes sociais, em questão de horas conseguiram incutir em seus seguidores o novo discurso. E de um momento a outro, saíram às ruas com o novo conceito da manifestação.
A rapidez foi tanta que ficou até engraçado quando dois desses ídolos, Alkmin e Aécio, foram à manifestação imaginando que seriam levados nos braços da glória e, ao invés disso, os expulsaram aos gritos de corruptos e oportunistas. Até eles foram surpreendidos pela mudança vertiginosa de conceito! Imagino um dizendo ao outro: Pô, mas nem me avisaram!
Assim se entende a constante luta das mídias estabelecidas, sobretudo Globo, contra as mídias sociais. Diariamente, em seus jornais e programas, a Globo insiste que ficar muito tempo nas redes sociais faz mal para a saúde. Faz mal para a saúde dela! De uns tempos para cá ela vem tentando também colar seus aplicativos nos usuários de mídias sociais, o que seria um meio de manter suas ideias ativas. Mas não está conseguindo.
Lí dia desses, véspera da manifestação, um texto do Fernando Morais em que ele expressava bem essa atuação participativa dos meios eletrônicos na nossa vida. Dizia ele: (...)mas as coisas mudaram: imprensa de papel está com os dias contados; assim como a TV, como nós conhecemos, também vai acabar. Agora eles mentem à noite na televisão e nós desmentimos de dia, na internet. Acabou a moleza.