CHEGOU!!! CRÔNICAS & RABISCOS, em março, grande lançamento! Crônicas de humor, edição ilustrada

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

DIMENOR - menino de rua



Clique na imagem para ampliar

Carnaval

(Óscar Fuchs)

— Aqui em casa? Nem pensar! — Gritou a mulher.
— Mas, benzinho... — Tentou o marido.
— Não! Aqui em casa ninguém vai ficar com a TV ligada a noite toda assistindo baile de carnaval.
— Você sabe que eu não gosto de pular carnaval, só gosto de ver.
— Sei, sei muito bem. — Ironizou ela.
— Lembra? Quando a gente ia a baile de carnaval eu ficava sentado o tempo todo, só olhando.
— Você ficava sentado porque estava podre de bêbado.
— Pode ser, mas...
— Além disso, você não gosta de ver as pessoas pulando carnaval, você gosta de ver é mulher pelada pulando carnaval. Aqui em casa não, é uma imoralidade!
— Benzinho, você está com ciúmes? — Perguntou ele com um sorriso sarcástico.
— Ciúmes? Eu? Até deixaria você assistir se isso resolvesse o seu problema de... de...
— “De... de...”?
— ...de levantamento de peso. E tem as crianças. Elas não conseguirão dormir e ficarão ouvindo tudo. Isso se não quiserem vir para a sala assistir essa pornografia.
— A gente manda as crianças para a casa de alguém. — Sugere o marido.
— Para a casa de quem?
— Da sua mãe!!! — Jogou na cara dela, impaciente.
Depois inspirou e corrigiu, mais calmo:
— Desculpe, eu quis dizer “da sua mãe”, benzinho.
— As crianças vão atrapalhar a mamãe. Ela adora ver os bailes de carnaval pela televisão.
— Ah, é mesmo? Safadinha ela, hein?
— Não fale assim da mamãe. Ver TV é a única distração que a coitadinha tem no carnaval.
— E se você e as crianças fossem para o Rio? Pode até levar aquela sua mãe... a sua mãe, quero dizer.
— Vai sonhando. Aquilo é uma loucura no carnaval, nem vaga em hotel se acha.
— O Nogueira, meu chefe, tem um apartamento lá. Ele já me ofereceu várias vezes!
— Você poderia ir com a gente! — Entusiasmou-se ela.
— Não dá. Você sabe que o Nogueira quer uns levantamentos durante o carnaval. Mas vocês podem ir!
— Mmmmmmmm... — Refletiu ela.
— As crianças vão adorar a praia!
— Ah, isso vão mesmo. — Sorriu ela.
— Vamos arrumar as malas, vocês partem amanhã. “Cidade maravilhosa, Cheia de encantos mil...” — Cantarolou ele tirando as malas do alto do roupeiro.
Na manhã seguinte a mulher e as crianças partiram para o Rio. Na noite seguinte ele se instalou em frente à TV com tudo à mão. Assistia ávido as foliãs seminuas. Uma morena em especial chamou sua atenção. Usava somente a parte de baixo do biquíni, pulava e rebolava alegremente com um copo de cerveja na mão. A imagem fechou para suas pernas e foi subindo para os quadris, os seios, até chegar ao rosto. Ele se engasgou com o uísque e exclamou:
— Benzinho!?