CHEGOU!!! CRÔNICAS & RABISCOS, em março, grande lançamento! Crônicas de humor, edição ilustrada

terça-feira, 2 de março de 2010

DIMENOR - menino de rua



Clique na imagem para ampliar

M.A.

(Óscar Fuchs)

Existem AA – Alcoólicos Anônimos, NA – Narcóticos Anônimos, até ME – Maridos Explorados. Alcoolistas entram no AA porque sabem que estão se matando aos poucos, narcóticos entram no NA porque sabem que estão se matando aos muitos e maridos entram no ME porque sabem que estão se matando pelas ex-esposas. Ora, quem está se matando mais do que os motoqueiros?
Dia desses, assim, en passant, entreouvi um motoqueiro dizer timidamente a outro:
— Cara, eu não passo sinal fechado.
O outro olhou para a cara dele — ou para a cara que estava atrás daquele capacete — e deu uma gargalhada. O motoqueiro que não passava sinal fechado saiu cabisbaixo, visivelmente sentido. Diria até que ele estava chorando, se eu pudesse ver através do capacete.
Fiquei pensando: Por que a vergonha? Se um deles agir corretamente vai servir de piada para os outros? Vai ser excluído? Vai ser humilhado? Então me veio a idéia: criar o M.A. – Motoqueiros Anônimos!
No MA os motoqueiros que não cometem loucuras no trânsito poderiam se reunir duas vezes por semana, se expressar livremente, contar suas experiências e suas angústias sem constrangimento.
— Companheiros, hoje não transitei nem uma vez entre as filas de automóveis parados no sinal! — Diria entusiasmado o... é anônimo, não posso dizer seu nome.
Aliás, no MA, como todos são anônimos, participam das reuniões de capacete para que se algum motoqueiro encontre outro na rua não possam se identificar.
Não há nenhum preconceito quanto aos participantes. Podem ter motos Harley Davidson de última geração, ou pequenas 125 cilindradas. As cores dos capacetes podem ser das mais diversas, se alguém usar cor-de-rosa, por exemplo, é opção dela... ou dele.
Apenas um MA consegue identificar outro companheiro do Motoqueiros Anônimos. Eles não têm aquela descarga aberta que deixa todos os outros transeuntes loucos com o barulho. Isso é terminantemente proibido para um MA.
O MA recusa qualquer contribuição tais como gorjetas, “fica com o troco” ou “pro cafezinho”. É uma organização auto- suficiente.
Ao ingressar num grupo de MA o iniciante deverá estar aberto a conselhos e sugestões dos membros mais antigos como “não estacionar entre dois carros, impedindo que qualquer dos veículos consiga sair” ou como “não andar sobre a calçada atropelando pedestres”.
Na rua, todo membro deverá divulgar o MA anonimamente, ou seja, sem tirar o capacete. O principal lema do MA é: não vou cometer loucuras no trânsito só por hoje.
Todo membro do MA poderá dar seus depoimentos nas reuniões, seja para expressar suas frustrações ou sua felicidade por mais um dia sem infrações ou abusos:
— Meus “Brody”, hoje eu fiquei mais um dia sem fazer ultrapassagem pela direita! — E todos aplaudem.
Claro, às vezes acontecem recaídas:
— Manos, estou muito triste, arrependido... e peço desculpas a todos que sempre me apoiaram: quebrei o espelhinho de um carro.
Dentro de alguns anos o MA se alastraria e teria diversos núcleos espalhados pelo país e pelas cidades. Todos os dias haveriam reuniões que durariam cerca de uma hora e meia. Ou seja, uma hora e meia por dia quase sem motoqueiros nas ruas. Quantos acidentes a menos?