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domingo, 26 de setembro de 2010

ONOFRE, o novato no campo

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A Revolta das Palavras

(Óscar Fuchs)

Como sempre, foi entre os pequenos que tudo começou. As monossilábicas foram as primeiras. Em assembléia, ante , , , , se e , entre outras, proferiu o primeiro discurso de repúdio ao sistema ortográfico e gramatical.

— Além de sermos as mais insignificantes, as que ocupam menos espaço, — Discursou — estamos sempre por baixo!

— E quando não estamos por baixo — Aparteou — damos uma flutuada pela atmosfera literária e acabamos abandonadas no solo da gramática!

Todas bateram acentos. Depois dos aplausos decidiram iniciar uma revolta. A palavra propaganda aderiu à revolução disseminando as idéias dos revoltosos. A adesão da palavra sim foi considerada muito positiva. Mas a mais festejada foi a adesão da palavra lei, pois, a partir daí, as revoltosas estavam com a lei ao lado delas. Mentira, em comissão com aleivosia e falácia, expôs o motivo principal da revolução:

— Temos que acabar com isso. Estão deturpando nossos sentidos, usam-nos para os mais condenáveis fins e, sempre, indevidamente. Tudo é mentira! Mentira! Mentira! — E logo depois de sua oratória deixou de ser mentira porque, já disseram, “uma mentira repetida várias vezes pode se tornar verdade”.

Paroxítonas e proparoxítonas passaram a freqüentar as reuniões. Turista, cabulador, ausente e esporádico não compareciam muito às assembléias, mas quando vinham a sala ficava cheia e apertada. Então aconteciam os acidentes:

— Você viu meu circunflexo por aí? — Perguntava atônito, atônito.

Escritores, jornalistas, poetas, estudantes e todos os que usavam as palavras passaram a sentir o efeito da revolta: se tentavam escrever, por exemplo, abacaxi, saía goiaba.

Jornais e revistas foram considerados os objetivos primordiais da revolução. A manchete d’O Globo, certa vez, foi uma declaração do presidente dos Estados Unidos: O Bin Laden é um amor.

Também a fala começou a ser afetada:

— O presidente dos Estados Unidos Chineses, Evo Morales, reuniu o parlamento britânico e exigiu... mas, o que é isso?— Disse o locutor no noticiário da TV.

Uma Babel! Depois de espalhada a revolta quem lesse a bíblia não sabia se era pecado desejar a mulher do próximo ou comer maçã logo depois do casamento. Livros de Marx passaram a defender radicalmente o capitalismo selvagem e, nos tratados de medicina, o estômago foi deslocado para o calcanhar.

A revolução chegou aos bancos e agências financeiras. Quem tinha saldo negativo passou a ter saldo positivo e vice-versa. As medidas da equipe econômica do governo saíam totalmente distorcidas, sem nexo. O interessante é que economia passou a dar bons resultados!

A revolta começou a invadir textos de editoriais e de cronistas, fazendo-os cataclismos práxis Vilela. Contrário mindinho, só signos Hugo Chaves ou Chico Buarque de Alemanha. Pré pós-cartesiano mar chiov deupil fretic hj otumijdim hueuiapjf...