terça-feira, 2 de novembro de 2010
Êxodo e Refluxo
(Óscar Fuchs)
Num restaurante de beira-de-estrada dois homens de meia-idade conversam sentados ao balcão com seus cafezinhos pós-almoço. Depois de tantos hífens, um pede ao outro:
— Pode me alcançar o adoçante?
— Só se você me alcançar o açúcar. — Diz o outro com um sorriso amistoso
— Pois não. — Alcançando o açúcar. — Abandonei o açúcar.
— E eu abandonei o adoçante. — Diz o outro alcançando o adoçante.
Os dois provaram do café e o do açúcar comenta:
— Daqui pra diante vai ser só açúcar, carne gorda, ovo, tudo que sempre tive que evitar.
— É mesmo? Por quê?
— Trabalhei trinta anos e quase morri de stress. Era caspa, gastrite, refluxo e, por último, um ataque cardíaco. Meu médico sempre dizia que eu deveria abandonar tudo: o trânsito da cidade, a pressão da empresa, tudo. Agora, finalmente, vendi o pouco que tinha e comprei uma fazendola no interior. Só ficou esse carro aí na frente.
— E você vai viver de quê?
— Sei lá! Plantar, criar uns bichos, enfim, viver! — Diz entusiasmado, erguendo as mãos para o céu.
— Pois eu, meu amigo, também estou indo para uma nova vida. — Diz o do adoçante.
— Ah, sim?
— Estou começando a me adaptar. Agora vou querer um emprego que me pague o suficiente todo final de mês, que eu não tenha que me preocupar com salários de empregados, com impostos, se a produção vai ser boa ou não, etc. Ah, e adoçante, dieta equilibrada e tranquilidade! – Concluiu numa risada.
Depois de limpar as lágrimas de tanto rir, o do açúcar pergunta:
— Mas, o que você fazia?
— Eu tinha uma fazendola no interior.
Os dois ficam pensativos mexendo as colherinhas nas xícaras. Até que o do açúcar pergunta:
— Você vai na sobremesa?
— Só se for diet.
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