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quinta-feira, 29 de julho de 2010

METENDO A MÃO

Indecisos

O amigo Jorge — minha memória externa E.X.T. —, entre tudo o que guarda de nossa vizinhança infante e adolescente, lembrou-me das bancas de revista e papelarias de nosso tempo:

— A gente parava na frente de uma prateleira indeciso de qual revista levar. — Disse.

Primeiro parágrafo muito longo, isso não é recomendável. Mas vou deixar assim.

Tínhamos, então, jornais muito mais, digamos, “saudáveis”. Das revistas semanais havia as “a favor” e as “contra”. A favor e contra qualquer coisa, afinal tínhamos dois lados para tudo e, no mais das vezes, por pura ideologia — coisa que também existia àquela época.

Não seria best seller a Bruna Surfistinha como autora. Livros assim ficavam meio relegados, recebendo o valor que realmente tinham. Havia best seller, sim! Mas com alguma qualidade. E recém-lançados, muitos recém-lançados.

Pegue-se qualquer revista semanal atual e todas serão iguais, todas alardeiam os mesmos pontos de vista e todas excluem de suas páginas os discordantes. Sem contar que 70% da revista é anúncio, exortando o modelo “tudo por dinheiro”.

Revistas mensais... deixa eu pensar... existe alguma? As revistas mensais eram voltadas à cultura, às artes, a matérias e reportagens mais atemporais. Enfim, podia-se cantar /Quem lê tanta notícia?/, como Caetano, pois na época havia diversificadas notícias.

Continuamos indecisos defronte à prateleira, batendo a ponta do indicador nos lábios enquanto murmuramos:

— Qual a menos ruim...qual a menos ruim...

Alguns amigos e eu pensamos, há algum tempo, em lançar uma revista só com duas páginas. Abortamos o projeto porque temíamos que a Caras nos acusasse de plágio. Qualquer possibilidade de uma boa publicação, hoje, é bem remota e as que vemos são iniciativas isoladas e de pouca tiragem, dispersas por livrarias especializadas ou naquela pequena cafeteria, daquela galeria, lá naquele bairro.

Agora estão lançando mais uma revista de fofocas de celebridades, igual a todas as outras trinta revistas de celebridades que fazem de qualquer bunduda uma celebridade. E, parafraseando Caetano, quem lê tanta não notícia?

Mas modernidade também traz alternativas. Esse blog, por exemplo. Ou diversos outros de pessoas mais talentosas que eu, escrevendo aquilo que acham que deve ser dito, sem policiamentos, sem censuras financeiras e com diversos prismas. Aqui, espero que você, pelo menos, se divirta. Afinal, ridendus castigat mores.

Só que aí eu sento, fico pensando e dou aquela filosofada: quantos acessos tem o blog da Surfistinha? E quantos acessos têm os blogs dessas pessoas mais talentosas e interessantes? É discussão antiga, mas voltemos a ela: é o povo que não está interessado em coisas talentosas e interessantes, ou é a mídia que força a barra para que o povo prefira revista de celebridades, blog de Surfistinha, etc, etc et al? Cadê o papel...cadê o papel...

Uma coisa é certa: aquele talento enorme e bem desenhado que a Bruna Surfistinha tem por trás dela faz a diferença.