Chegando o carnaval, lembrei do incidente cômico de uma viagem que fizemos, aproveitando os feriados. Dois casais, cinquenta minutos até o aeroporto de Florianópolis, bagagem para cinco ou seis dias.
No mesmo voo está o conhecido narrador esportivo Armindo Antônio Ranzolin e a família. Apesar da viagem ser curta e rápida, na chegada a correria é geral. Claro, feriados e Floripa combinam e convidam. A ansiedade aflora.
Do desembarque até a esteira de bagagens, todos os passageiros naquele passinho apressado de gueixa, quando a gente tá correndo sem querer mostrar que está correndo. A esteira está contornada de gente louca pra aproveitar as praias e os dias de folga.
Malas, bolsas e mochilas começam a surgir daquela janela que parece a entrada de uma casinha de ratos e vão sendo resgatas aos poucos. Vem minha mala, eu pego. Vem outra mala das nossas, eu pego. Outra, pego. Só falta a bolsa da nossa amiga.
Lá no início da esteira, por onde as malas chegam, se posiciona o Ranzolin, atento. De repente, com aquela voz de trovão dos locutores de futebol, ele grita de lá:
- Olha, gente, tá passando um soutien que deve ter caído de uma mala.
Risadas, algumas gargalhadas e todos na expectativa, atentos à trajetória do soutien solitário, desfilando na esteira. Qual das mulheres da fila pegaria a peça íntima? Mas o soutien faz toda a volta e não é resgatado.
- Ahhhhh... – Ecoa o lamento de uma turminha de rapazes que já está no clima de carnaval.
Com certeza, a delicadeza com bagagens,que é típica dos funcionários de companhias aéreas, rasgou ou arrebentou o fecho da bolsa, espalhando seu conteúdo. O soutien retorna para outro desfile e se renova a expectativa. Todos os olhos o seguem. E então:
- Agora veio uma calcinha! – Brada o Ranzolin lá do canto.
Todos se viram naquela direção. Surge um novo elemento.
- Agora vai! – Diz um daqueles rapazes.
Mas, outra vez, a frustração:
- Ahhhhhh.... – Lamentam.
Ninguém pega as peças. Agora são uma calcinha e um soutien dando voltas e todos rindo. Eis que:
- Outra calcinha, pessoal! – Anuncia Ranzolin.
A esposa lhe dá um tapinha nas costas, repreendendo-o por estar chamando a atenção para algo que deixa qualquer mulher constrangida. Ele se justifica, só queria ajudar!
Então começam a surgir várias peças íntimas, espalhando-se esteira afora e, cada uma delas, sendo narrada por Ranzolin como se estivesse anunciando a escalação de um Grenal.
Nossa amiga dá um beliscão no marido que estava se divertindo com a situação e lhe diz entredentes:
- Pelo amor de Deus, faz aquele homem calar a boca!
- Ué, por que? – Pergunta ele ainda esfregando o braço ardido do beliscão.
- Porque essas calcinhas são minhas! – Diz ela, raivosa.
Mas ela própria percebe que não há como fazer “aquele homem calar a boca” e, conformada, constrangida e irada, puxa sua bolsa com força da esteira e começa a catar as calcinhas e soutiens que lentamente circulam.
Aos poucos as pessoas vão pegando suas malas e deixando a esteira, enquanto a gente espera para ter certeza de que nenhuma outra calcinha apareça.
Toda vez que penso em futebol, lembro dessa amiga que, mal ou bem, teve suas calcinhas e soutiens narrados por um dos maiores locutores do Brasil. É de se orgulhar!