(Óscar Fuchs)
Trabalhei como Relações Públicas em uma casa noturna há muitos anos. Minha rotina era sair do trabalho lá pelas cinco da manhã, chegar em casa, pegar o jornal quentinho que recém tinha sido entregue e ler até que viesse o sono.
Certa vez, por cerca de duas semanas, não recebi o jornal. Atrapalhou toda a minha rotina, pois chegava em casa e não tinha nada para descontrair de uma noite de trabalho.
Numa madrugada dessas, chegando em casa, encontrei o entregador saindo pelo portão do prédio logo após entregar o jornal. Não pude deixar de exultar:
— Ah, finalmente voltaram a entregar o meu jornal!
— É — disse ele —, a gente não estava entregando.
— Isso eu sei! O que aconteceu?
— A gente estava em greve. O senhor não vê as notícias, não?
Não me contive:
— Como é que poderia ver as notícias se você não me entrega o jornal!?
Disso, me ocorreu:
O sujeito vem pela estrada e para em um posto de combustíveis para abastecer o carro:
— Cinqüenta reais de álcool, por favor. — Pede.
— Não dá. — Diz o frentista.
— Como é? — Pergunta o motorista.
— Não posso vender álcool para o senhor.
O motorista sorri amarelo.
— Como assim, não pode? Isso é uma pegadinha, né?
— Não, senhor.
— É uma pegadinha, sim. Cadê a câmera? Cadê?
— Câmera é na borracharia, senhor.
— Eu to falando de câmera de filmar. Aposto que tem uma câmera filmando a gente. — Desconfia, olhando para os lados
— Tem, não.
— Mas, então... por que você não pode abastecer meu carro?
— Abastecer, eu posso. Só não pode ser com álcool.
— E por que não?
— Quem garante que o senhor não vai beber?
— Ta maluco? Eu nem bebo!
— Isso é o que o senhor está dizendo.
— Você acha que vou beber álcool combustível?
— Já vi gente bebendo cada coisa que o senhor não imagina. O vício é uma desgraça.
— Agora ta me chamando de bêbado!
— Como é que vou saber? Eu não ponho a mão no fogo por ninguém.
— Isso não tem lógica.
— O que não tem lógica é o senhor beber um tanque cheio de álcool e sair por aí, embriagado, provocando acidentes e matando gente inocente.
— Você é maluco?
— Posso ser maluco, mas não sou bêbado.
— Eu não bebo! Vamos resolver isso: você coloca um pouquinho, só pra eu chegar a outro posto, ta bem?
— Só uma garrafinha?
— Só uma garrafinha.
— Vamos fazer diferente: eu sirvo um copinho pro senhor, só uma dose, e o senhor promete que larga a bebida.
— Eu já disse que não bebo!
— Todos os bêbados dizem que não são bêbados.
— Escute aqui, ou você abastece meu carro ou denuncio você e esse posto agora mesmo!
— Pode denunciar. To só respeitando a lei.
— Lei? Mas que lei?
— Puxa, o senhor é muito desinformado, hein?
— Mas eu não to sabendo de nada, que lei é essa?
— Não sabe que proibiram a venda de álcool nas estradas?
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentar me ajuda!