A gente sabe que dublagem não é fácil. Ter que
combinar os movimentos da boca e todos os outros gestos a uma fala estrangeira
requer muita competência. Por isso, talvez, algumas dublagens deixam a desejar.
Dia desses vi um filme em que o personagem chegava correndo a
uma estação do metrô. Ele apontava para o túnel de onde saiam os trilhos e
gritava para seu colega:
─ Tem um trem! Tem um trem!
A cena ficou ridícula. O que o personagem esperava que viesse
daquele túnel com aqueles trilhos de trem, um camelo?
No original, a
fala seria Take the train! Take the
Train! (Pegue o trem! Pegue o trem!), mas o dublador tinha que
adequar a fala ao movimento. Ou o roteirista da dublagem não tinha imaginação.
De qualquer forma, a estória não era tão boa.
Há, porém, falhas de dublagem recorrentes e que machucam os
ouvidos quase todos os dias. A que optei por denunciar é a da maldita “serra
elétrica”. Penso que, na verdade, o erro nem começou com os dubladores e sim
com os tituladores de filmes.
Em “O Massacre da Serra Elétrica” ─ que tanto pode ser
classificado como um filme de terror, ou como um terror
de filme ─ o erro já começa na tradução do título. Pra você que perdeu duas
horas de sua vida assistindo a esse filme, pergunto: viu algum fio elétrico
saindo da serra? Não, né? E, se houvesse esse fio, como o vilão perseguiria
aquele bando de idiotas sem se enrolar? Eu me enrolo todo no fio do aspirador
de pó, que só tem três metros!
Imagina o terrível assassino da serra chegar ao local do
massacre e sair andando de lado, ao longo das paredes, com o fio da serra
elétrica na mão e procurando:
─ Cento e dez... cento e dez... cento e dez... Cadê a tomada
duzentos e vinte, pô!
Ou se, no momento do massacre, a serra só emitisse um puf...puf...puf e de repente ele percebesse que tinha ligado
na tomada errada?
Imagino,
então, que os dubladores tenham embarcado na mesma onda dos tituladores, para
quem qualquer serra é uma serra elétrica.
Desembarquem, dubladores.
Assisto documentários de desbravadores, daqueles que vivem em
lugares remotos, onde é indispensável uma serra. Porém, todas as vezes que
dublam ou narram o uso de uma serra, dizem que a serra é elétrica. Não é!
O lugar é remoto, portanto, não há energia elétrica por
perto. A eletricidade mais próxima, se houver, está há dez quilômetros de
distância e vem de um gerador. O desbravador está lá no círculo polar ártico,
no meio da neve, dentro de uma floresta que tem a extensão de quase todo o
Alasca e, quando vai derrubar uma árvore, o dublador coloca em sua boca:
─ Preciso ir até meu trenó pegar a serra elétrica.
E eu pergunto: vai ligar em qual tomada!?
Naqueles programas em que constroem cabanas no meio do nada
acontece o mesmo. De repente alguém grita lá do telhado:
─ Ei, Scot! Me alcance a serra elétrica!
Quantos quilômetros de fio seria preciso para chegar a essa serra elétrica?
Dubladores, a título de contribuição, explico: o que usam
nesses lugares não são serras elétricas, mas motosserras. A motosserra é uma
serra com motor a combustão, que funciona com gasolina, como um motor de
motocicleta ou de barco. É específica para lugares remotos e isolados, pois só
é preciso levar um ou dois galões de combustível para fazê-la trabalhar.
Até entendo a explicação de que a palavra motosserra não se encaixa nos movimentos
labiais do personagem, só que serra
elétrica não se encaixa nem nos movimentos labiais, nem na lógica.
Portanto, lanço uma campanha. Deve haver uma dezena de
palavras e expressões que combinem com os movimentos labiais dos personagens e
que deem o sentido de motosserra.
Quem souber, descobrir ou inventar uma dessas, por favor, contribua: envie para
os dubladores!
Se não corrigirem isso logo, poderá haver
um massacre de motosserra. E esse, não
ficção.
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