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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A Rebeldia das Palavras - a crônica que deu origem à série (ao blog)

Se bem lembram, o blog se chamava A Revolta das Palavras. Escrevi essa crônica (A Revolta das Palavras) lá por 1985, publicada no jornal A União. Entre as crônicas de uma coletânea que entreguei a meu amigo Guilherme Cantarelli, estava essa. Depois que as leu, perguntei a Guilherme que título daria se fosse editado um livro daquela coletânea. Sugeriu-me “A Revolta das Palavras”. Estava difícil para alguma editora lançar o livro, optei por um blog e usei a sugestão do Cantarelli: lancei o blog “A Revolta das Palavras”. No entanto, amigos comentaram e, pesquisando, descobri um livro escrito por José Paulo Paes, vários anos depois, com o mesmo título. Fiquei curioso e fui furungar: que “Revolta das Palavras” é essa? Vi isso: O motivo da revolta que ele narra foi o fato de as palavras não agüentarem (sic) mais ser mal usadas. Assim, sob o comando das palavras Verdade e Mentira, elas decidiram atrapalhar a vida de todo o mundo que alterasse o seu real sentido para enganar as pessoas de boa-fé. Prêmio Jabuti 2000 de Melhor Livro Infanto-Juvenil.
Hoje me perguntam por quê troquei o nome do blog de A Revolta das Palavras para A REBELDIA DAS PALAVRAS. Ora, ninguém é dono de palavra alguma, tanto menos eu. Se houve acaso ou não, se houve intenção ou não, se houve simbiose de idéias ou a sincronicidade de Jung, (para aqueles que gostam de música, sugiro ouvirem Chico Buarque, "A voz do dono, e o dono da voz") Enfim, o que importa é quem manda, ou sejam, AS PALAVRAS, importantes são as palavras. Mas, aí vai, palavra por palavra:



A Revolta das Palavras - a crônica que deu origem à série (ao blog)


(Óscar Fuchs)


Como sempre, foi entre os pequenos que tudo começou. As monossilábicas foram as primeiras. Em assembleia, ante , , , , se e , entre outras, proferiu o primeiro discurso de repúdio ao sistema ortográfico e gramatical.
            — Além de sermos as mais insignificantes, as que ocupam menos espaço, — Discursou — estamos sempre por baixo!
            — E quando não estamos por baixo — Aparteou — damos uma flutuada pela atmosfera literária e acabamos abandonadas no solo da gramática!
            Todas bateram acentos. Depois dos aplausos decidiram iniciar uma revolta. A palavra propaganda aderiu à revolução disseminando as ideias dos revoltosos. A adesão da palavra sim foi considerada muito positiva. Mas a mais festejada foi a adesão da palavra lei, pois, a partir daí, as revoltosas estavam com a lei ao lado delas. Mentira, em comissão com aleivosia e falácia, expôs o motivo principal da revolução:
            — Temos que acabar com isso. Estão deturpando nossos sentidos, usam-nos para os mais condenáveis fins e, sempre, indevidamente. Tudo é mentira! Mentira! Mentira! — E, logo depois de sua oratória, deixou de ser mentira porque, já disseram, “uma mentira repetida várias vezes pode se tornar verdade”.
            Paroxítonas e proparoxítonas passaram a frequentar as reuniões. Turista, cabulador, ausente e esporádico não compareciam muito às assembleias, mas quando vinham a sala ficava cheia e apertada. Então aconteciam os acidentes:
            — Você viu meu circunflexo por aí? — Perguntava atônito, atônito.
            Escritores, jornalistas, poetas, estudantes e todos os que usavam as palavras passaram a sentir o efeito da revolta: se tentavam escrever, por exemplo, abacaxi, saía goiaba.
            Jornais e revistas foram considerados os objetivos primordiais da revolução. A manchete d’O Globo, certa vez, foi uma declaração do presidente dos Estados Unidos: O Bin Laden era um amor.
            Também a fala começou a ser afetada:
            — O presidente dos Estados Unidos Chineses, Evo Morales, reuniu o parlamento britânico e exigiu... mas, o que é isso?— Disse o locutor no noticiário da TV.
            Uma Babel! Depois de espalhada a revolta quem lesse a bíblia não sabia se era pecado desejar a mulher do próximo ou comer maçã logo depois do casamento. Livros de Marx passaram a defender radicalmente o capitalismo selvagem e, nos tratados de medicina, o estômago foi deslocado para o calcanhar.
            A revolução chegou aos bancos e agências financeiras. Quem tinha saldo negativo passou a ter saldo positivo e vice—versa. As medidas da equipe econômica do governo saíam totalmente distorcidas, sem nexo. O interessante é que a economia passou a dar bons resultados!

            A revolta começou a invadir textos de editoriais e de cronistas, fazendo-os cataclismos práxis Vilela. Contrário mindinho, só signos Hugo Chaves ou Chico Buarque de Alemanha. Pré pós-cartesiano mar chiov deupil fretic hj otumijdim hueuiapjf...

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