CHEGOU!!! CRÔNICAS & RABISCOS, em março, grande lançamento! Crônicas de humor, edição ilustrada

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Protágoras, Euatlo e... Moro!


(Óscar Fuchs)

Na Grécia Antiga a justiça era na praça, na ágora. Dois vizinhos que se acusavam por causa da troca de um porco por oito galinhas que algum deles não entendeu bem, levavam seus argumentos ao júri, que decidia quem estava com a razão. Porém, nem todos tinham talento para a oratória, ou poder de convencimento. Então, contratavam alguém para argumentar em seu lugar, pela sua causa. Isso logo virou uma especialização e uma profissão, a dos argumentistas.
Logo, dados os ganhos e o prestígio que auferia um argumentista, muitos queriam exercer a função. E surgiram então “professores de argumentação”. Um dos mais bem sucedidos argumentistas dessa época era Protágoras, admirado por todos e que cobrava caro por seus serviços. Protágoras tornou-se também o mais requerido mestre de argumentação.
Vendo a atuação de Protágoras num daqueles júris, estava na plateia certo dia um jovem chamado Euatlo. Ele ficou encantado com a perspicácia e a inteligência de Protágoras e decidiu tornar-se um argumentista. Mas para isso precisaria de aulas e ele queria ser aluno do melhor: Protágoras, o mais caro mestre. Tanto Euatlo pediu a Protágoras que o aceitasse, que o mestre concordou em lhe dar aulas. Fizeram um acordo: assim que Euatlo vencesse sua primeira causa, pagaria a Protágoras as aulas recebidas.
Terminadas as aulas, Euatlo foi em busca de trabalho, de uma causa a defender. Jovens iniciantes e inexperientes, no entanto, tinham dificuldade em convencer novos clientes. Assim, se passaram meses sem que Euatlo conseguisse uma causa com a qual pudesse provar sua capacidade e pagar Protágoras. O que fez então, Protágoras? Levou sua causa a júri: queria receber o dinheiro devido por Euatlo.
Nas discussões que precediam as argumentações, percebia-se no povo que lotava a ágora a expectativa pelo embate: o promissor aluno, contra o melhor dos mestres. Quem venceria?
Não houve justiça. Ninguém venceu. Não houve conclusão. Não se chegou a um juízo. Tudo porque o grande mestre argumentava — com razão — que o acordo firmado obrigava que Euatlo pagasse Protágoras assim que vencesse sua primeira causa: em ganhando, Euatlo teria de lhe pagar, pois o jovem vencera sua primeira causa; em perdendo, Euatlo também teria de lhe pagar porque assim havia decidido o júri.
Mas, tão bom foi o mestre e tão promissor o aluno que o argumento de Euatlo anulou o de seu oponente. Dizia Euatlo — com razão — que o acordo firmado o obrigava pagar Protágoras assim que vencesse sua primeira causa, logo, se Protágoras ganhasse, nada teria que receber pois Euatlo não vencera e, se Protágoras perdesse, também nada teria que receber pois assim decidira o júri.
E o que Moro tem a ver com isso, além do fato de também ser do Direito? Há algum tempo chamei-o de incompetente porque não tinha coragem de inocentar Lula pelos compromissos assumidos com a direita, mas também não conseguia condenar Lula apesar de tanto furungar e tentar “arranjar” provas. Ele mesmo já sabia disso e agora, de uma vez por todas, resolveu tirar o corpo fora. Fez mais ou menos o que faz aquele árbitro de futebol ao terminar a partida com placar em 1 a 1, sem dar acréscimos: contenta todo mundo e se safa de acusações. A direita não poderá acusá-lo de descompromisso, nem a esquerda poderá dizer que ele é um banana, um pau-mandado. Ele acusou Lula! Mesmo sabendo que não vai dar em nada. Jogou pra torcida.
Não houve justiça, como no caso de Euatlo e Protágoras...embora por razões muito diferentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentar me ajuda!