(Óscar Fuchs)
Nos
domingos de sol a querida companheira e eu, geralmente, almoçamos fora. Saímos
de casa assim, sem saber a qual restaurante ir. Fazemos um passeio e depois
decidimos. Mas antes, ainda em casa:
— O que, você vai de abrigo de futebol? — Pergunta a querida
companheira.
— Sim. — Respondo.
Sempre fui fascinado por “linguagem corporal” e, depois de
trinta anos de convivência, a gente consegue ler perfeitamente os gestos da
outra pessoa. A querida companheira colocou as mãos na cintura e já dei meia
volta para trocar de figurino. Nem precisava ouvi-la dizer:
— Você não vai a um jogo de futebol, vai a um restaurante.
Sozinho! Porque não vou com você vestindo esse abrigo velho.
Aqui em casa é diferente. Ao invés de a mulher passar horas
defronte o armário escolhendo roupa, eu é que faço isso. Não para contentar a
mim mesmo, mas a ela. Abri as portas do armário e as dúvidas pularam lá de
dentro feito duendes, saltitantes à minha volta:
— Veste a bermuda... a bermuda... — dizia um duende com seu
risinho agudo e irritante.
— A camiseta cinza... a cinza... — insuflava outro.
— É uma boa, — respondi a eles, neurótico — bermuda “à la”
militar e camiseta cinza, neutra... não tem erro!
Vesti e voltei à sala, onde a querida companheira esperava,
já impaciente.
— Então, que tal? — Exibi-me.
— Com essa camiseta? É velha, já encolheu e ainda tem essa
frase idiota.
— É bem humorada!
— Uma seta apontando para baixo e escrito “Piu-Piu solto” é
humor pra você?
— Tá bem, troco a camiseta.
Cheguei ao armário e peguei outra camiseta, ao que ela
gritou lá da sala:
— Essa da estampa “Fofucho” também é ridícula!
Devolvi a camiseta ao armário, suspirei, e decidi mudar todo
o figurino. “Calça jeans e camisa jeans. Jeans nunca falha, é normalíssimo,
combina com qualquer lugar”, pensei.
Troquei tudo pelo jeans e voltei à sala.
— Nós dois de jeans? Par de vasos? — Perguntou ela.
— E por que você não troca, então? —
Ousei.
— Ora, porque eu vesti primeiro... e jeans nunca falha, é
normalíssimo, combina com qualquer lugar.
— Quem disse isso?
— Com certeza, não foi você.
Fui eu, mas não arrisco piorar a situação com uma discussão
sobre direito autoral.
— Óquei... vou trocar de novo.
Me encaminhava de volta ao armário quando ela explodiu:
— Não precisa, não vou mais! Cansei! Já to tirando a roupa,
vou vestir minha camisola, me deitar e ver um filme no netflix... pede alguma
coisa se tiver fome, eu desisti. É sempre a mesma coisa...!
Constrangido, sem saber o que fazer, meio perdido, calado e
me sentindo culpado, também tirei a roupa e fui deitar ao lado dela, que já
conectava o netflix. Então ela levantou-se, colocou as mãos na cintura e eu só
pensei: “Quê qui eu fiz agora?” Linguagem corporal, eu sei. E ela inquiriu:
—
Vai passar o domingo todo deitado com essa cueca velha?
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