Óscar Fuchs
Depois de morrer, ele chega a um
lugar qualquer e encontra outro sujeito.
─ Inferno.
─ Diz ele.
─ Hein? ─ Pergunta o outro.
─ Quero ir para o inferno. Quero ver
todos aqueles canalhas queimando, os políticos corruptos, os corruptores de
políticos, os que votaram nos políticos corruptos... faço esse sacrifício, só pela
satisfação. ─ Ele explica.
─ Ah, não tem nada disso, não. ─ Diz
o outro com um leve sorriso.
─ Como assim?
─ Não tem.
─ Então, não existe isso de céu e
inferno?
─ Não.
─ Quer dizer que ninguém é punido?
─ Ninguém.
─ Nem pastor picareta, nem miliciano?
─ Não.
─ Juiz de futebol?
─ Também não.
─ Mas, e isso aqui, o que é isso
aqui?
─ Aqui? Nada.
─ Como, “nada”? Tô te vendo!
─ Sim, e...?
─ Ah, não me enrola. É pegadinha, né?
Essa fumacinha pairando na atmosfera, esse chão branco limpíssimo, tem você!
─ O que tem eu?
─ Confessa, vai. É sacanagem que
vocês fazem com os novatos, já saquei. Você tá todo de branco!
─ Tá, e daí?
─ Como “e daí”? Essa é exatamente a
imagem que divulgam pra gente: chegando
lá em cima, você vai encontrar... isso aqui!
─ “Em cima”, do quê?
─ Ah, você sabe, eu não vou ficar
explicando detalhes!
─ Certo. Então podemos ir.
─ Aí é que está! Ir pra onde? Pra que
inferno de lugar vocês levam a gente?
─ Já falei que não tem esse negócio
de inferno.
─ Tá bom, tá bom! Já entendi! Mas
tudo tem uma razão, um motivo, tudo tem um objetivo, tem uma...
─ Qual razão você acha que deveria
ter?
─ Vem cá, antes de chegar aqui você
foi atendente de telemarketing ou psicólogo, né? Nunca responde uma pergunta?
─ É que as suas perguntas...
─ Eu sei, eu sei, as crenças, as
religiões, Kant, Nietzsche, Schopenhauer...
─ Mito.
─ Quê?
─ Tudo mito.
─ Então é Lévi-Strauss?
─ Você apenas existiu, agora é nada,
só isso.
─ Então, é o ser lá embaixo, e o nada
aqui?
─ “Lá embaixo”...?
─ Você entendeu! É isso?
─ Isso mesmo.
─ Putz, era Sartre? Espera, pra onde a gente tá indo? Mas que atendimento ruim,
hein? Tem ouvidoria?
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