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domingo, 9 de dezembro de 2018

Tenho uma história

Óscar Fuchs


Gostam de uma boa história? Tenho uma ótima para lhes contar:
Se você estiver em Roma, em Istambul, em Nova York, em Madri, em Toronto, em Buenos Aires, em Hong Kong... Como você chamaria um taxi? Qual palavra você usaria? Levantaria a mão e gritaria:
- Taxi!!!

Lá em Montevidéu passei por isso. Foi naquele domingo da eleição: Tabaré versus Pou, esquerda contra direita. Chovia ... chovia.... cristo, quanto chovia!  Minha mulher e eu fomos a um restaurante próximo a um shopping e, sem querer, achamos aquele restaurante que a gente não encontrava e que estava recomendado no guia. Achamos!

Taxi em Montevidéu é difícil... imagina com chuva! Taxi em Montevidéu tem um vidro que separa passageiros do motorista... e tem uma “gaveta” na qual você “enfia” o dinheiro ao pagar a corrida. Só em “pesos” uruguaios.

Muita chuva, poucos taxis. Combinei com minha mulher: quando o taxi chegar, entre no banco de trás que eu entrarei no banco da frente, assim a gente se molha menos.

E assim, foi: sentei no banco da frente. A chuva batendo.. e minha mulher lá, no banco de trás, atrás do vidro, isolada. No banco da frente, ouvi uma música, volume muito baixinho... então perguntei aochofeur, em portunhol:
- Que estás ouvindo?
- Schubert.  – Respondeu ele, e completou - Prefiro Mozart, pero...

Não sou muito fã de Schubert, disse ele. Nem eu, disse eu. Como aquele colega trabalhador motorista de taxi, eu também prefiro Mozart. A partir daí, a chuva forte, ochofeur e eu falando sobre música. Pouco se enxergava, mas continuávamos rumo a nosso destino. Ele entendia tudo de música clássica. Seu pai fora músico e ensinou-lhe como apreciar. Nos deleitamos falando de Mozart, nosso ídolo. Ele fazendo o percurso, feliz da vida por poder conversar com alguém que compartilha sua paixão, Mozart, e eu também... mais feliz ainda!
Perguntei se ele sabia de onde vinha a palavra “taxi”, já que trabalhava nisso e era seu “meio-de-vida”. Imediato e enfático, respondeu: “SIM!”
E contou-me toda a história que eu já sabia, mas que ouvi com extrema atenção e respeito porque, sem dúvida, ele é muito mais digno de contá-la do que eu. Segue a história:
“Naquela época, à época de Mozart, músicos e compositores eram consideradosmeros instrumentos do Estado, serviam apenas para deleitar o rei e distrair o povo.
Para sobreviver, compositores tinham que se submeter e vender seus trabalhos, daí a importância de ser Kepellmeister, pois sendo o mestre do rei, mais prestígio se teria e, portanto, mais se poderia cobrar.
Em Viena havia um barão muito rico. Ele alugava coches ou charretes. As pessoas que queriam ir a uma ópera ou a um concerto da corte, tinham que fazer isso em grande estilo. Porém, muitas famílias não tinham condições financeiras ou de espaço para manter uma charrete, uma carruagem ou um coche. Percebendo isso, esse barão passou a alugar coches para aquelas pessoas que queriam ir ao concerto do rei e que não podiam chegar lá a pé. Questão de imagem!
Esse barão tinha uma filha e ela completaria quinze anos em breve (lembram da tradição das debutantes?). Ora, para todas as ocasiões especiais, mandava a tradição e o ritual da corte que se fizesse “algo especial”, enfim, que o paiencomendasse uma peça, uma música, que seria a marca daquela cerimônia. No caso, uma adolescente que está se tornando mulher.
Mozart fez muito isso, para sobreviver. Até música para circenses ele fez! Bem, Mozart conseguiu ser contratado para fazer a peça de debutante da filha daquele barão riquíssimo e nobre! E não fez por menos.
Mozart criou uma música que, até hoje, é citada como uma das maiores maravilhas do mundo: Eine Kleine Nachtmusik. Isso significa, numa tradução literal, “um tipo de música noturna”. Já, numa tradução livre, seria: “uma musiquinha na noite”. Que “musiquinha”, hein?”
Tenho certeza que qualquer pessoa que ouvir apenas a introdução, vai identificar: https://www.youtube.com/watch?v=Ytpj0lg5Cmk&list=RDYtpj0lg5Cmk#t=0
Não terminou ainda! Imagine que você esteja saindo de casa para assistir a um concerto de Mozart. Imagine que você vai pegar um taxi... você tem que pegar um taxi para ir a um concerto no centro da cidade! Imagine que esse concerto seja a obra Eine Kleine Nachtmusik e você reclama porque não consegue achar um taxi. Pergunto: sabe por que esse veículo que você está esperando ansiosamente e do qual você precisa tanto, se chama taxi? Talvez nem o próprio motorista saiba.
Pois bem, você só vai chegar a esse concerto (Eine Kleine Nachtmusik), com toda a sua pompa e circunstância (Elgar), usando aquele motorista de taxi. Ele só está ali para levá-lo onde você quiser. Pois aquele barão que encomendou aquela música a Mozart, para sua filha que fazia 15 anos, que alugava carruagens e coches, que fazia parte da corte... se chamava Barão Von Taxi!  Por isso, em qualquer parte do mundo que você esteja, “taxi” é uma palavra universal, por causa daquele Barão! Mas, sobretudo, por causa de Mozart, que nem viveu o suficiente para saber disso.”

E chegamos.

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